Da newsletter do Migalhas, sob o título acima
Duas equipes do ministério da Agricultura foram mobilizadas para tentar solucionar aquele que promete ser o maior problema brasileiro em 2009. Estamos no fim de outubro, e os 30 maiores plantadores de grãos (que estão em GO e MT) não estão se mexendo para o plantio. Nos últimos anos, eles vêm sendo financiados pelas grandes empresas (multinacionais) que, diante do cenário, não estão comprando antecipadamente a produção. E mesmo porque ninguém sabe qual será o preço do produto, o qual não pára de cair. Afora a queda das commodities, o preço dos insumos é em dólar. Ou seja, esticou-se a corda dos dois lados. O produtor, no meio do furdunço, nada pode fazer. Assim, ou o governo se mexe, ou em 2009 teremos a pior safra agrícola. Melhor dizendo, para não fugir do enredo, nunca antes na história desse país.
Se o cenário se definir realmente neste sentido, haverá certamente um refluxo das invasões e protestos dos movimentos de sem-terras. Afinal, declarar as multinacionais vilãs se tornará muito mais fácil. A não ser que se considere 2010 e o custo que isto poderá ter para a candidatura de Dilma Rousseff.
Quanto à marola, esta só faz crescer.
Como leigo, até onde eu sei esses produtores rurais celebraram um contrato privado com os detentores da propriedade intelecutal das sementes geneticamente modificadas. Se existe um instrumento contratual que é do foco do direito privado, como você está invocando a esfera pública para dar a solução no alegado conflito?
ResponderExcluirComo pode o governo federal, sem agravar o direito público, comprar uma safra que por copyright pertence a outrem? Essa é a pergunta e a tese a resposta.
Por fim, cabe esclarecer ao leitor desavisado que esse tipo de agricultura está altamente mecanizada e uma crise nela poquíssimo somaria deserdados ao lumpem dos sem-terra. Este sim um grande problema, que a solução exige revermos as relações sociais no arcaico meio rural brasileiro.
Abs.
Caríssimo,
ResponderExcluirnão invoquei a esfera pública para resolver um problema da esfera privada. Não sei, por isso, de onde tiraste a ilação.
Par contre (como dizem os franceses), qualquer tremor neste setor afeta a balança comercial brasileira e a arrecadação tributária. Daí porque, talvez, o Ministério da Agricultura esteja interessado no assunto; e isto é notícia, não uma conclusão minha.
Ademais, não creio que a nota esteja falando somente de compra de safras geneticamente modificadas. Afinal, se fosse este o único caso corrente no campo, os contratos deveriam prever (e certamente prevêem) multas ou compensações para o caso de quebra da aquisição antecipada. Então, não haveria crise, mas tão somente uma queda de arrecadação provocada
Finalmente, quando falo do MST, falo de protestos do movimento contra o grande empreendimento agromecanizado. A crise no setor com certeza dará força às alegações de que o setor agrícola brasileiro não pode ficar nas mãos do capital externo, muito menos em grandes propriedades rurais. Daí, conseqüentemente, o que chamei de refluxo das invasões. A não ser, repito, que os próceres do MST e assemelhados entendam que isto poderá prejudicar o projeto de eleição de Dilma, já que o governo federal é grande parceiro dos movimentos sociais, na forma inclusive de subvenções.
Abração.
Agora entendi. Obrigado pelo eslcarecimento.
ResponderExcluirAbs.
Caro Francisco,
ResponderExcluirvocê acertou no que viu e assim me permitiu ir atrás do que não vimos.
O Encontro da Via Campesina realizado em Maputo na semana passada alerta que :
"... apesar de a produção permanecer elevada, a aposta dos especuladores na escassez para incrementar artificialmente os preços teve sucesso. A produção mundial de grãos na safra 2007/2008 está estimada em 2,1 bilhões de toneladas, o que representa um aumento de 4,7% em relação à safra anterior. Apesar disso, o número de esfomeados no mundo cresceu dramaticamente até alcançar a cifra de um bilhão de pessoas.
João Pedro Stedile sintetizou em cinco pontos a ofensiva do capital financeiro internacional pelo controle da agricultura através de vários mecanismos. Primeiro, através de seus excedentes de capital financeiro; os bancos passaram a comprar ações de centenas de empresas que atuavam em diferentes setores relacionados com a agricultura. E a partir do controle da maior parte das ações, promoveram um processo de concentração monopolística.
Segundo, mediante a dolarização da economia mundial. Isto permitiu que as transnacionais se aproveitassem das taxas de câmbio favoráveis e entrassem nas economias nacionais comprando facilmente as empresas locais dominando assim os mercados produtores e o comércio dos produtos agrícolas.
Terceiro, utilizando as regras impostas pelos organismos internacionais, tais como a Organização Mundial do Comércio, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e os acordos multilaterais, que normalizaram o comércio de produtos agrícolas segundo os interesses das grandes empresas, e obrigaram os governos servis a liberalizarem o comércio destes produtos.
Quarto, graças ao crédito bancário a produção agrícola, cada vez mais dependente de insumos industriais, ficou à mercê da utilização de créditos bancários para financiar a produção. E os bancos financiaram a implantação e o domínio da agricultura industrial em todo o mundo.
Finalmente, na maioria dos países os governos abandonaram as políticas públicas de proteção do mercado agrícola e da economia camponesa."
Pelo visto, Stédile não está disposto a "refrescar" ninguém. Vamos esperar pra ver.
Abração.
Boa noite, Francisco:
ResponderExcluirem tempo, aqui na nossa casa também acontece algo inusitado, no que se refere à agricultura familiar..
Na apresentação das "correções" do PPA 2008-2011, entre Programas e Ações incluídas e excluídas em relação à proposta original, o Governo excluiu o programa de Fomento á Agricultura Familiar, embrulhou-o numa miscelânea à qual chamou pomposamente de Campo Cidadão e nesse troca-troca desapareceram recursos significativos. Estou tentando fechar até segunda-feira onde foram parar os recursos reduzidos de um programa para o outro.
Depois te conto.
Abração.
Bia, belas contribuições. Vou aguardar sua contribuição sobre o caminho que os recursos destinados à agricultura familiar tomaram para abrir um novo post sobre o assunto.
ResponderExcluirObrigado.