segunda-feira, 18 de junho de 2012

Homo sapiens: crepúsculo

Imagem: Sebastião Salgado

"Não se deve pensar que a vida da escuridão está mergulhada no sofrimento e perdida como que no pesar. Não existe pesar. Pois o pesar é algo que é tragado pela morte, e a morte e o momento em que se morre são a própria vida da escuridão."

Jacob Boeheme (filósofo, místico luterano e sapateiro; 1575-1624)

7 comentários:

  1. Caramba, carambissima! Nao se fazem mais sapateiros como antigamente...

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  2. Interessante essa reflexão: a vida é quando se vem à luz e a morte a escuridão. Eu, que acredito na vida "vida após a morte", jamais consegui compreender, de fato, o porquê que se diz que a morte é a própria escuridão.
    Podemos viver em plena escuridão. Podemos morrer em plena luz.
    Mas, de fat, no momento em que se morre, eu imagino, seria como se a luz "piscasse" por um tempo. Ora, mas quando dormimos, também a luz nao nos some dos olhos?
    Ahh, eu quisera ser sapateira, as vezes...

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  3. Que maluquice a forma como os luteranos mergulham no sofrimento. Penso que tem sempre uma pergunta anterior a isso: O que podemos suportar? E isto é muito individual. Claro que a foto do Sebastião Salgado é a grande armadilha do post; mas eu jamais abandonaria a pergunta: O que podemos suportar? Eu me mataria antes.

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  4. Silvina, curiosamente a primeira obra de Boeheme foi um manuscrito chamado Aurora.
    Creio serem as idéias deste autor ainda atuais, pois de certa forma a humanidade se afasta neste momento histórico do que ele chama de GRAÇA, e portanto da SALVAÇÃO.
    Basta ver a porcentagem crescente de ateus declarados na Europa e na América do Norte, por exemplo.
    Será a história cíclica?
    Kss.

    PS: na próxima ida ao seu sapateiro, procure conversar mais com ele. Rss.

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  5. Marise, o romancista americano contemporâneo (que eu adoro, por sinal) chamado Cormac McCarthy explora muito bem o grau de sofrimento tolerável para os humanos. A sua "trilogia da fronteira" (All The Pretty Horses; The Crossing e Cities of the Plain), já comentada aqui no Flanar, chega ao limite do sofrimento e da vida..
    E Ângela Rô-Rô (nada luterana, a propósito), resume bem com a frase título de uma de suas músicas, "Só Nos Resta Viver".
    Ou Arthur Schopenhauer, com a máxima "Viver é Sofrer".
    E por aí vai.
    A discussão não tem fim, mas a vida sim.
    Abs

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  6. "– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"

    Monteiro Lobato

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