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CRACOLÂNDIA
. Por Edyr Augusto Proença
CRACOLÂNDIA
. Por Edyr Augusto Proença
Agora de tarde, o carro reportagem da RBA TV estacionou na Riachuelo, entre Presidente Vargas e Primeiro de Março. Nesta, estacionou uma viatura da PM, com dois soldados e um comandante. O comandante estava em uma ligação. É impressionante como falam ao celular. Vocês estão aqui para dar segurança ao carro da Tv? É uma reportagem sobre a Cracolândia? - Eles chegaram aos poucos, mas rápido formaram um time consistente. Jovens, pivetões, meia idade, homens e mulheres. Quase não dormem. Passam o dia à mercê de doses de crack. Não sei de onde vieram, expulsos. Adotaram a saída lateral do Cuíra, entrada e saída dos artistas, como seu ponto, meramente porque o recuo até a grade, é espaço suficiente para desviarem do vento e acender o cachimbo. Imagino que o incêndio há poucos dias em uma casa ali no Reduto, tenha como estopim os fósforos que acendem sem parar. A área do portão do Cuíra fica cheia de fósforos queimados. Tratam-nos muito bem, com respeito. Mas entre si, há disputas selvagens, com socos, facadas e tiros. Ficam amontoados feito percevejos, com suas roupas imundas, rostos macilentos. Pedem desculpas por não ter coragem de largar o vício. Disse-me isso um homem feito, seus 28 anos, talvez. Deslocaram de lugar as prostitutas da área, raras, com alguma idade e clientela de aposentados. Uma vez, tive o número e liguei para o Coronel Solano, tipo vice chefe da Polícia, algo assim. Queria pedir-lhe uma solução, um susto, que fosse, para que saíssem dali, por conta do prejuízo nos serviços do Cuíra, na área social e artística. Pra quê. Ouvi um sermão de vários minutos sobre ser um problema social, que estoura nas mãos da Polícia e escambau. Assim o comandantezinho da patrulha que está lá no Cuíra agora, tarde de quarta feira, 30 de janeiro.
É uma reportagem sobre a Cracolândia? Que Cracolândia? Aqui não tem isso. Não tem? Tem sim, senhor comandante. São apenas umas cinco pessoas consumindo crack. Cinco pessoas? O senhor então não sabe. Trabalho aqui com o Teatro e posso lhe dizer que são uns cinquenta, talvez, tá bom, uns trinta, quem sabe. Olha aqui, esse é um problema social, entende? Nós estamos sempre passando por aqui. Passam e eles saem. Vocês dobram a esquina, eles retornam, vão até a Praça da República e voltam. Pronto, tocou novamente o celular. Ia dizer a ele que do meu prédio, podemos ver até o traficante agindo. Quando aparece a Polícia, certa vez, o guarda o conhecia. O traficante foi até lá, deu abraço e saiu na boa.
Leio que em SP, há discussão a respeito. Paulo Faria, que tem um teatro instalado no centro, região da Luz, é contra a tal internação compulsória. Drauzio Varela acha que precisa internar. Não tenho preparo para responder, mas, mais do que atrapalhar a paisagem, incomodar quem passa, até ameaçar os transeuntes, a sociedade precisa encontrar rápidamente uma saída para esses infelizes viciados.
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O escritor Edyr Augusto Proença, e sua companheira, a atriz Zê Charone, integram o Grupo de Tetro Cuíra. Este grupo tem um trabalho, na área teatral paraense, de longas datas, e de grande qualidade. O que Edyr Augusto Proença está narrando, são as dificuldades de desenvolver um projeto cultural em uma cidade que despreza seu patrimônio cultural e artístico; e, ao mesmo tempo, está narrando o que acontece neste momento no bairro da Campina.
ResponderExcluirA veia sangrando do Edyr, ao meu ver, pode ser tamponada pelas ideias médicas do Druzio Varela, que se expressa como um profisional diante de uma epidemia (Sim, o crack é doença e se apresenta como epidemia)somadas a uma atitude policial mais incisiva. Enquanto uns se alienam da verdade, os policiais, no caso, que acham que a sociopatia não lhe deve satisfação, outros enfrentam-na, mesmo sem saber se estão utilizando apenas um band-aid. As críticas a Drauzio são muitas, mas ainda não vejo outra solução que não seja a internação compulsória aos que ameaçam a si e a própria sociedade. É uma reação. Ao contrário do policial, uma negação.
ResponderExcluirRoger, de tudo que estou observando, e na contramão de amigos e profissionais que são contra a internação, eu me coloco favorável. Penso que diante do que está ai e da ausência de atitudes, e de ações que quebrem o cotidiano da exposição nas ruas de casos como estes, sou favorável a internação, já que o crack isola o indivíduo de ações cotidianas e o vicia quase que instantaneamente. Ele acaba por conviver em grupos de viciados. Junto ao problema do crack, no caso de Belém, temos o abandono real da cidade nos últimos 12 anos. Ações foram feitas pontualmente em algumas áreas da cidade. Mas, somados ao abandono do patrimônio histórico - que se mantém com ações isoladas, como a do Fórum Landi - e nenhuma ação de preservação(que eu saiba), a cidade vai sendo ocupada como querem seus moradores. O crack é um problema nacional, mas que atinge pontualmente uma camada de seus habitantes quando se trata de espaço urbano. E isto tem transformado o problema da vida nas ruas, dos crakeiros, em um inferno para os moradores locais. É desesperador vê-los em atividade.... Aqui, estamos com confusões e brigas a cada duas horas(se fosse para cronometrar as ações). Bares e lugares para sentar neste entorno? Eu desconheço? O que vejo são casas sendo compradas, e algumas restauradas. Pessoas montando seus negócios e tentando sobreviver. Locais para guardar barracas e e os apetrechos da Feira da Pça da República; e o abandono geral do bairro pelo poder público. Inclusive, as putas, como bem colocou o Edyr, estão saindo; e temos os puteiros decadentes.A situação é desesperadora na dimensão que coloca o Edyr Augusto Proença, por um lado. Por outro, é desesperadora na dimensão do poder público que temos em Belém, e com o qual não podemos contar.
ResponderExcluirPobres, sujos , fedidos , maltrapilhos , banguelas , berebentos , alucinados . Aí que nojo , aí que meeeeddoo !Eles nasceram assim?O que os fez assim?Quem os fez assim?O que eu fiz?O que fazemos nós ?O que faremos nós ?Só uma certeza ....
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