quinta-feira, 23 de abril de 2009

As Palavras e as Coisas

Como expressão decadente desses tempos, o país é agredido com a notícia de que um juiz da mais alta corte de justiça possui capangas, conforme foi dito por um desafeto, também juiz, durante treze minutos de explícita esculhambação mútua, diante a pares que abichornados assistiam a cena dramática, e que depois seria apresentada em cadeia nacional.
O alvo do grave insulto foi o presidente do Supremo Tribunal Federal. Hoje, bombeiros aguam o episódio com uma meia-desculpa e dizem que o ministro Joaquim Barbosa ao fazer referência a capangas pretendia na realidade referir-se a uma pessoa qualquer - i.e. um fulano ou sicrano, posto serem estas as palavras mais exatas para o caso, quando dialogava uma profissão que tem apreço a palavras e vírgulas como balizas para o enunciado correto do pensamento.
Entretanto saídas ao modo de falsete não dão solução para situações de tal gravidade. Nem para este bate-boca na alta judicatura, nem para as razões que empurraram duas autoridades de tal quilate para um deprimente pugilato verbal.
A propósito a palavra capanga não significa uma pessoa qualquer. O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa - Michaellis estabelece com clareza a filologia e as alternativas de significado do termo:
ca.pan.ga. sm (quimbundo kapanga) 1 Valentão a soldo de uma pessoa para protegê-la; cacundeiro, guarda-costas, jagunço. 2 Indivíduo assalariado para assassinato, coerção ou ataque inescrupuloso; assassino profissional. sf 1 O total das compras de diamantes realizadas pelos capangueiros; partida de diamantes. 2 Bolsa pequena que se leva a tiracolo para conduzir pequenos objetos, chamada também bocó, ou mocó. (Esta última é a acepção original). 3 Folc Avental ou bolsa usado nas cerimônias do toré. 4 Pequeno embornal com o qual se apresenta o Oxossi, que traz também um polvorinho.

4 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Isso foi só uma palhinha, meu caro. O Judiciário está podre.

Itajaí disse...

Frederico, não é so o judiciário que enfrenta problemas. O país deveria fazer um esforço para rever o que fragiliza os três pilares da República, e o quarto, se quizermos dar a imprensa esse status, para assim remover o que constitui uma das raízes para fortalecimento da democracia brasileira e, por consequência, a própria República, de modo a torná-la res-pública. Contudo não o fará porque infelizmente essa discussão não está nas ruas, continua bacherelesca e metida em panos quentes.
Obrigado pela oportunidade ao debate.

Anônimo disse...

A propósito:

http://cloacanews.blogspot.com/2009/04/capangas-protestam-no-mato-grosso.html

Itajaí disse...

Anônimo, o desagravo certamente emocionou o ilustre presidente do STF. Mas foi só. Pois não há entre os fatos contextualizados no post qualquer identidade. Por sorte que é pertinente concluir que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.