domingo, 29 de junho de 2014

Para-brisa

Imagem: Scylla Lage Neto



E assim sigo surfando
Na minha própria existência
Como o carapanã que por sobre a BR 316 flutua,
Eternamente esperando por ti
Ou pelo inexorável para-brisa.



domingo, 15 de junho de 2014

Cesta do enfraseamento: Apneia inspiratória

Nesta sexta não tem cesta. 
Os deuses das frases me asfixiaram  de inspiração. 
Só resta expirar... e esperar 
que o fôlego retorne, afiando idéias arfantes.
"inda" estou embotado da última, 
a do clamor do cangaço sanguinário.
Dou mais gosto ao cangaço literário
por onde escarro murmúrios de palavras. 

Labareda, do bando de Corisco

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Vidência? Não, apenas análise, meus caros

O fiasco da abertura da Copa 2014 tinha sido prevista neste blog em fevereiro de 2013, no post Será que o Dragão vai passar a perna no Saci-Pererê?

 É Carnaval e pouca gente no Brasil deve ter notado uma notícia que, caso seja confirmada, será um dos mais duros golpes contra a criatividade e competência verde-e-amarela. No final de semana passado, a imprensa européia anunciava que Franco Dragone, o diretor ítalo-belga, assinou contrato para dirigir a abertura e o encerramento da Copa do Mundo em 2014 no Brasil. Dragone, nascido na Itália, mas desde o sete anos de idade residente em La Louvière, Bélgica, é apontado como o responsável pelo "renascimento" do Cirque du Soleil, companhia canadense onde atuou como criador entre 1985 e 1998. No currículo do diretor estão ainda a criação e direção dos shows de (aargh!) Céline Dion em (argh, argh!!!) Las Vegas.
Perguntinha inoportuna: será que não há no Brasil gente capaz e criativa? E não me venham com aquele papo que "o Brasil abre a casa, mas quem dá a festa é a Fifa".
Nada contra o Dragone - aliás, chamado de "coreógrafo" pela Folha de S. Paulo. Só acho que depois de astronauta voando na Sapucaí, carros alegóricos de 30 metros de altura, e toda a tradição de espetáculos  teatrais de rua, o Brasil tem estofo suficiente de fazer a abertura e encerramento da Copa em casa.
Para quem quiser conhecer um pouco mais do estilo nada modesto de Dragone, recomendo o site do auto-denominado "The world's most spectacular showmaker" .  E vamos rezar para ele não escalar La Dion para cantar no Maracanã pois, my heart won't go on.

Aos namorados do Brasil



Imagem: Scylla Lage Neto

Aos Namorados do Brasil

Carlos Drummond de Andrade

"...pois namorar não é só juntar duas atrações
no velho estilo ou no moderno estilo,
com arrepios, murmúrios, silêncios,
caminhadas, jantares, gravações,
fins-de-semana, o carro à toda ou a 80,
lancha, piscina, dia-dos-namorados,
foto colorida, filme adoidado,,
rápido motel onde os espelhos
não guardam beijo e alma de ninguém.

Namorar é o sentido absoluto
que se esconde no gesto muito simples,
não intencional, nunca previsto,
e dá ao gesto a cor do amanhecer,
para ficar durando, perdurando,
som de cristal na concha
ou no infinito…"

domingo, 8 de junho de 2014

Cesta do enfraseamento: Sra. Bala

Para Artur Eugênio, cirurgião morto de morte matada 



"...não precisamos de balas a despetalar a flor da idade"
Antonio Maria, escrevinhador de nano coisas



Lá vem o Jagunço, de parabelo em punho:
-Sra. Bala, deixe-me passar!
-Deixe-me passar, Sra. Bala!
Deixa...
... a bala passa por dentro
E o estampido ecoa pelos campos Guararapes
(Ouve-se, ainda, o tricotar de quatro tiros metralhados no tórax).

Lá vem o enterro: a caminho da boa viagem
Não se ouve a sanfona
A zabumba baqueteia solitária
Uma ladainha de velas ritmadas
é um “pé-de-serra” no ritmo do caminhar
resta um gorgolejar de almas


Ao redor do chão,
Um espelho de lágrimas reflete a dor
-como chora aquela criança de tenra idade!
- Como chora!
Inunda a Caatinga cooronelista

De cá,
Resguardo meu pesar à sombra de uma mangueira
Tiro meu chapéu
Escoro no peito
E com olhos de lamparina  
Assisto ao cortejo
Fartura de gente
o tempo parou no disparo do algoz
e engoliu o caminho semi-incisado 
calou aquela voz, 
ateou fogo nos sonhos
e espetou a ciência com o espinho de Mandacaru
:é o western do Cangaço-Lampião,
o pavio da miséria.

Acauã canta seu canto
"intão" chove mais não
"Num" vai chover no sertão
Molha a terra a lágrima daquela criança
Mistura-se ao sangue escorrido das veias
E se perdem nas valas da agonia
Então vai chover mais não
Não vai chover no sertão

#PorBrindeNenhum



Ainda chego a me espantar com versões dos fatos, apesar de acreditar piamente que os fatos são versões. Em período de eleições, cada assunto ganha inesperadas proporções e cores inimagináveis. As do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) têm me colocado nesse lugar do espanto, porque me parecem muito distantes e distintas as coisas que vejo e as coisas que leio.

É ótimo saber o que os outros pensam a respeito dos mesmos assuntos sobre os quais me debruço. Mas adoro me debruçar sobre a fonte. Por isso estava ansiosa para ver a íntegra do debate entre as duas chapas que concorrem às eleições do sindicato e só hoje pude ter acesso. Como a entidade que representa minha categoria não disponibilizou o vídeo, a chapa de oposição optou por oferecer o registro que fez no último dia 3 de junho.

O colega Cleiton César se mostrou um bom mediador. Certamente ajudou a manter um clima menos hostil que a colega Sheila Faro tentou emplacar na ocasião. Deve ser difícil mesmo manter a tranqüilidade quando se tem uma chapa de oposição tão bem formada como a que encabeça Helena Palmquist.

Não é este o momento de se fazer avaliação de sua gestão, eu diria à Sheila. Transparência ou se faz regularmente ou é se debater no pântano. Agora é tempo de convencer, pelo menos, os jornalistas que votam sobre a proposta de gestão que se propõe a implementar. Quí! Enveredou por chamar inúmeras vezes os demais colegas de ausentes e oportunistas. Com esse tom espera união? Proximidade? A mim, afasta. E acho que a mais gente. Dos mais de mil jornalistas filiados, apenas 400 estão aptos a votar. Isso sem falar dos colegas que nem se associaram.

Mas, ah, não! Sheila Faro não é a candidata à presidente do Sinjor nas próximas eleições. É Roberta Vilanova, que estava na mesa, mas preferiu franquear a palavra para Sheila na maior parte do tempo.
Daí o debate ficou um pouco entre esclarecer a gestão da qual ambas fazem parte, a voz da situação, e a crítica sobre o que se tem que fazer, a voz da oposição. E foi um bom bocado! Ainda que uma diretoria esteja composta por uma equipe, a gente quer mesmo ouvir o cabeça de chapa na hora do debate. E Helena assumiu muito bem este lugar, apesar de também estar acompanhada.

Helena dominou facilmente o microfone. Com maestria. Delicada como ela é e firme, como tem de ser. Expôs as profundas discordâncias políticas entre as chapas e foi aplaudida seguidamente. Eu também vibro ao vê-la falar. Mas há quem pense que aplaudir um discurso seja coisa de claque, de gente que está para fazer cena, incapaz de raciocinar.

A primeira saraivada de palmas detonada no debate foi no final dos 44 minutos de verbo da mesa. “A confiança de que a gestão vai ser boa não passa pelo número de pessoas que vão se dedicar mais ou menos, que vão se licenciar, que não vão se licenciar, só, apenas. Ela passa pela consistência da discussão política que a gente conseguiu construir. A nossa chapa é um feliz encontro de quatro gerações de jornalistas de luta, que não se sentem representados pelo sindicato e que estão fazendo um intenso debate político nesses três meses. Isso me dá muita segurança de que essa gestão vai ser muito boa, porque a gente tem disposição pra luta, porque a gente tem debate interno, democrático, sem centralismo. Queremos discutir esse estatuto, porque ele centraliza e tira força da categoria. O bom da nossa chapa é isso, é que é um coletivo, funciona como coletivo. Tenho total confiança de que vamos fazer uma excelente gestão”.

Um dos temas muito polemizados nestas eleições – e do qual tratei AQUI – foi retomado com bastante lucidez por Helena, que tratou de distinguir a função do jornalista que é assessor de imprensa e a de um sindicato de trabalhadores que não pode se aliar a patrões, “por brinde nenhum nesse mundo”. Claro que não, ora pois! Mas Sheila diz que isso é “demodê, muito antiquado essa maneira de se fazer sindicalismo, achando que a gente não pode ser parceiro. Se for para garantir um brinde, obviamente a gente faz a parceria”. E ainda veio nova justificativa para o inaceitável. Roberta Vilanova argumentou que a necessidade de parcerias se dá em função da alta taxa de inadimplência. Gente... #PorBrindeNenhum

E adivinhem uma nova? Palavras-chave: baderneiros, vândalos, terroristas, tudo que não presta. Fez sentido? Vou contar: Helena foi acusada de radical. Ra-di-cal. Que horror! Vocês não ficam com... medo? Ironias à parte, pra não brincar do jogo do encontre atos falhos, Helena respondeu que tem muito orgulho de ser combativa. Eu acho maravilhoso! Na modorrência a gente não chega a lugar nenhum! “O desrespeito e a violação aos direitos humanos neste estado e neste país são graves o suficiente para exigir postura firme, que você chama de radical. Para nós é muito chocante ver pessoas que estão dentro de um sindicato que, em tese é uma instância de luta dos trabalhadores, questionando a disposição de luta das pessoas que estão aqui”.

E pra que eu não precise relatar as brilhantes considerações finais da Helena ou me descambe a palavrear sobre a chapa da situação, convido a que assistam o debate e tirem suas próprias conclusões, você também, nobre leitor.