terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ai, que saudade da minha bicicletinha?


É assim que começa o texto do jornal argentino Página | 12, sob o título de "Cristina, 'un domingo memorable'". Ele é todo uma costura das tuitadas da presidenta. Talvez seja o exemplo mais denso que encontrei para me remeter ao que pode ser um imbróglio para alguns jornalistas ou editorias: utilizar do que está publicado nas mídias sociais como fonte primária de informação para matéria jornalística.

Há quem abomine o recurso. Considere que não é legítimo ou mesmo digno. Há quem aproveite algumas postagens para compor suas matérias; quem não consiga outra fonte de informação e precise se valer das mídias sociais; ou ainda que acesse algumas fontes por outras ferramentas, há quem saiba tirar bom proveito das novas tecnologias da informação e comunicação.

Quanto não pode ser feito com novas nuances de um tema que foi vastamente explorado a partir de releases e dados formais? Maravilha, não?

No Brasil mesmo existem exemplos desse uso. Na Argentina, não percebi conflitos pelo uso desta tática. Por que deveria haver?

Ai, que saudade da minha bicicletinha?


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Sebastianismo e saudosismo

Há um certo sebastianismo em algumas famílias. Há sempre quem viva no passado, achando que os tempos idos eram mais felizes, que as pessoas eram melhores e que os antepassados eram mais valorosos. Nem tudo é verdade.

Também entre os parentes mortos há aqueles que foram desonestos, desumanos, maus profissionais, pais ausentes, péssimos maridos.

Mas a morte, como se fosse efetivamente aquilo que liberta a alma boa do corpo vil, apaga os defeitos e ressalta as qualidades - mesmo as inexistentes.

Também é verdade que, como os parentes de pessoas mortas, há quem ache que sua cidade, seu tempo de juventude, seu passado não tão distante era melhor que hoje. Será isso fato ou imaginação?

Talvez seja bom lembrar que o mito sebastiano original nunca se resolveu. Até hoje os portugueses, saudosistas como nenhum povo há - até pelo uso da palavra "saudade", que dizem não existir com esse significado em nenhuma outra língua -, continuam esperando o retorno de Dom Sebastião das areias de Marrocos. Esperam há cinco séculos. Esperam por alguém que sequer viram partir.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

We gaan naar de Oscar, hè!

The Belgium's nominated  for the 2014 foreign language film Oscar category is a powerful and haunting tale of love, death and bluegrass – a mournful song played on a broken instrument, with striking visual accompaniment ( The Guardian)

A Bélgica vai aos Oscar 2014 com um forte candidato: The Broken Circle Breakdown, do diretor flamengo Felix Van Groeningen. Como o jornal inglês (menção acima)  define: é mesmo um poderoso e doído conto de amor morte e bluegrass - essa country music que assim como o sertanejo no Brasil - pelo menos aquele "das antigas" -  tem a capacidade de unir beleza, simplicidade e melancolia.
Espero que com essa nominação, o filme tenha distribuição no Brasil. Roteiro, fotografia e produção são impecáveis. Não foi à toa que o filme ganhou 11 prêmios internacionais. Mas o que fica marcado nos espectadores é mesmo a performance dos atores: Johan Heldenbergh é  excelente. E acima dele, a atriz Veerle Baetens chega ao sublime. Ela ganhou o European Film Award deste ano. Com certeza a atuação dela merecia a indicação ao Oscar de melhor atriz. Sorry Merryl  Streep, mas prefiro a  Veerle.
Enquanto, não chega no Brasil, vale a pena conferir o site do filme.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O ano é 2017


Lá por 2017, o celular já era ubíquo. Pelas ruas e ônibus, pelas escolas e repartições, parques e praias, só se viam seres humanos curvados, de cabeça baixa, servis como cachorrinhos a babar sobre as telas de cristal líquido, para onde quer que se olhasse -mas quem olhava?


Antônio Prata, jornalista.

Que venha 2014!

Que ano é hoje?
Um dia eu soube:
o hoje me foge.
O amanhã?
Perfura meu peito com a adaga da esperança
Assim fui;
assim chego...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Simone e Rodolfo. Uma dupla irreparável

Justifico de pronto que não considero memória artigo de museu, no sentido mais estrito de se fazer referência a um momento que passou e serve apenas para ser contemplado eventualmente numa moldura sobre a parede. Assim, me dou a liberdade de postar outra vez sobre um tema que, mais do que passado, deve ser trampolim para uma reflexão profícua sobre nosso cotidiano e sobre em que cumbuca temos de meter a mão para transformar nossa realidade em dias melhores. Tanto vangloriamos a democracia. Mas a que tipo de democracia nos referimos? Sim, existem vários modelos dela. E será mesmo que este modelo sob o jugo da qual vivemos ainda merece ser sustentado? Tenho muitas dúvidas sobre isso, quase certeza de que ela está vencida. Está mofada.

Narigão de cera, como se diria no bordão jornalístico. Mas é isso. Foi assim que dei conta para apresentar aos leitores duas paixões que me foram lembradas hoje pelas mídias sociais: Simone de Beauvoir, que completaria 106 anos hoje se estivesse viva, e Rodolfo Walsh, morto há 37 anos pela ditadura argentina. Uma dupla genial. Cada um na sua frente de pensamento e atuação. Ambos irreparáveis.

Lembrei de Todos os Homens São Mortais, livro assinado pela francesa - uma das musas do feminismo - e que li há alguns anos. Década de 90. Ah, e que de emprestado ficou sumido, para nunca mais voltar às minhas mãos #Humpf . Também lembrei da bela, precisa e dura carta aberta escrita pelo argentino, na véspera de seu sequestro e assassinato e que fazia ferrenha análise da violência contra os direitos humanos implementada pelos ditadores no país hermano.

Deixo essas duas propostas de leitura aos navegantes. O livro, não sei se tenho como oferecer. Mas a carta está AQUI. Diga-se de passagem, Rodolfo Walsh tem livros excelentes! Disso trato um pouco depois.

Um salve a quem tem o pulso ainda pulsante!

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

179 anos da Revolta da Cabanagem, num oferecimento de Armando Queiroz

Armando Queiroz é um dos artistas paraenses que eu admiro muito. Todos os trabalhos dele dos quais lembro me emocionaram, tamanha a sutileza das mensagens que oferece; tamanha a delicadeza e a força ao tratar de temas cotidianos. E, sim, ele é uma pessoa encantadora também. Portanto, vou me valer dessas virtudes para deixar aos leitores do Flanar um recorte da obra intitulada Tempo Cabano, instalação que tive a oportunidade de apreciar aqui em Belém (PA), há alguns anos, e que faz alusão a um levante extremamente precioso para história do estado, mas que ainda é refém de nosso desdém.

Explico o motivo de me referir à obra como recorte: não encontrei uma imagem do conjunto da instalação, por isso posto imagens que fizeram parte dela, digo as fotos de O Cabano Paraense (Alfredo Norfini) e de Vendedor de Amendoim (Luiz Braga); e a imagem de uma moeda de época abaixo de um grão de amendoim, encobertas por um aquário. Que me perdoem Armando e leitores, porque sei que é muito tosco fazer isso com uma obra de arte/instalação, mas foi a tesoura do desejo. O mais importante é lembrar que temos artistas paraenses dotados de talento refinado e que estamos há exatos 179 anos da Revolta da Cabanagem.