Há um certo sebastianismo em algumas famílias. Há sempre quem viva no passado, achando que os tempos idos eram mais felizes, que as pessoas eram melhores e que os antepassados eram mais valorosos. Nem tudo é verdade.
Também entre os parentes mortos há aqueles que foram desonestos, desumanos, maus profissionais, pais ausentes, péssimos maridos.
Mas a morte, como se fosse efetivamente aquilo que liberta a alma boa do corpo vil, apaga os defeitos e ressalta as qualidades - mesmo as inexistentes.
Também é verdade que, como os parentes de pessoas mortas, há quem ache que sua cidade, seu tempo de juventude, seu passado não tão distante era melhor que hoje. Será isso fato ou imaginação?
Talvez seja bom lembrar que o mito sebastiano original nunca se resolveu. Até hoje os portugueses, saudosistas como nenhum povo há - até pelo uso da palavra "saudade", que dizem não existir com esse significado em nenhuma outra língua -, continuam esperando o retorno de Dom Sebastião das areias de Marrocos. Esperam há cinco séculos. Esperam por alguém que sequer viram partir.
2 comentários:
Preciso, meu caro. Fiquei com aquela sensação de que você descreveu, objetivamente, o que eu não conseguia expressar em palavras, assim, tão claramente.
Escreva mais vezes. É um prazer lê-lo.
Abraço grande,
Erika
Muito verdade, tudo isso... Interessante texto! Agora: ouça mais a Erika.
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