segunda-feira, 13 de maio de 2013

Moinho Satânico

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Há um grande mistério que ainda não foi respondido: o mistério da obediência.  Norberto Bobbio dedicou a ele enorme importância. Foi dos gregos até Hegel perseguindo a questão: por que obedecemos? Obedecemos ao pai porque somos filhos: está na tradição! Mas, por que obedecemos ao senhor? Por que obedecemos ao Estado? Por que obedecemos as normas? Por que nos deixamos escravizar? Por quê? Questão maiúscula, esta! Quem leu Oliver Twist, de Charles Dickens, vai encontrar um menino orfão,  nascido em uma paróquia da Inglaterra, e que tem seu destino marcado pela influência de ladrões, mendigos e desgraçados. O mistério da obediência ao infortúnio é explicado por Charles Dickens na própria condição de existência em que o pequeno Oliver Twist vai nascer. Mas tem mais:  por que nós aceitamos a pobreza como uma condição social?  Esta pergunta será muito  bem respondida por Karl Polanyi,  no magistral A Grande Transformação. Lá os mistérios se encontram: obedecer e ser pobre: duas condições diretas à constituição do mundo contemporâneo. O Moinho Satânico, de que fala Karl Polanyi,  acabou por se expandir para toda parte; virou credo; virou lugar comum; virou o "glória a Deus nas alturas": ser pobre é ter a garantia de entrar no Reino dos Céus: Diz a lenda! E, de fato, essas relações estão consolidadas no imaginário social. A pobreza existe desde sempre..... Sempre foi assim.......E, diante dessas utopias civilizatórias, me deparei com a matéria da Folha de São Paulo do dia 9 de maio, na qual a Vale é acusada de impor um tratamento aos maquinistas de seus trens análogo às condições de Oliver Twist, e do Moinho Satânico de Karl Polanyi. A Vale, a  dona do sul do Pará, está levando os maquinistas das locomotivas, utilizadas para a transporte de minério, a fazerem  suas necessidades fisiológicas na cabine em que trabalham. As razões para tal são bem simples. Nas cabines a rotina é de 12 horas de trabalho, ou mais; e o painel de controle da cabine impede que os maquinistas se afastem por mais de  setenta segundos do painel de controle. Na mesma cabine em que fazem suas necessidades fisiológicas, em jornais e sacos plásticos; também se alimentam. E o melhor, o local só é higienizado de 48 em 48 horas. É fantástico! Em pleno séc. XXI, a Vale, trata seus maquinistas desta forma. E, claro, eles recorreram à Justiça do Trabalho. A desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 8º Região, Rosita de Nazaré Sidrim Nassar, escreve sobre isto. É ler para crer.

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