Claro, um charminho aqui, outra sondagem do terreno acolá, não faz mal a ninguém. Mas sem tanta demora, que já começa a aborrecer, e aí é melhor partir pra outra cena. E foi mais ou menos isso que passou. Na barra de serviços daquele espaço cultural aconchegante - cheio de estilo, gente em número suficiente pra não estafar e arte delicadamente picante -, a balconista multifunções me abordou de primeira, mal pude me encostar pra fazer o primeiro pedido da noite. “Você não é amiga Fábio?”. Entre boquiaberta por não reconhecê-la e sem respiração frente a tamanha graciosidade da Cecília, eu precisei de um tempinho traidor pra responder. “Sou”. Cheia de sorrisos e sem desviar o olhar, ela chega mais perto. “Você não lembra de mim? Nos conhecemos no aniversário dele”. Achei melhor me desculpar e dizer a verdade que já estava na minha cara. Dali em diante e com tanta atenção dispensada, não conseguia parar de medir cada pedaço do corpo de Cecília, vestida com aquela típica displicência calculada, do cabelo aos pés. Meio coque nas madeixas; blusa de linha levemente dourada e com gola canoa suficiente pra deixar um ombro de fora. Uma clássica malha negra deixava suas medidas da cintura para baixo ainda mais estimulantes. Insinuantes. Sorriso feminino, alegre e safadinho. “Mamita”, pensei. Pele branca e de fartos cabelos negros; desenhos suaves e outros graves no rosto. É, ela já tinha me derrubado. Eu estava facinha pra ela, que sempre tinha algum assunto ou oferta a me fazer; uma folguinha no trabalho pra sentar do meu lado e puxar uma conversa. Mulherzinha provocadora! Como ela começou o jogo, eu a deixei comandar a partida e depois fui embora, já que ela preferiu não partir pro gol. Só treinando, treinando. Hum. Uhum.
Cá com meus botões, adiantei o assunto com o amigo em comum, alguns dias depois. E a notícia que ele me trouxe não poderia ser melhor. Tava pra mim, ainda que ela estivesse ocupada com o namorado.
A próxima tacada era minha. Estava segura de que poderia beijar seus seios volumosos; apertar suas coxas contra mim. Já podia sentir o cheiro do seu cangote... Ih, não via a hora de voltar àquele portal.
E mais uma vez, ela chega de braços abertos. “Ah, Fábio me disse que você vinha hoje”. Ela não me dava espaço, tampouco fechava aquela “gestalt”. Isso é tesão à flor da pele ou não entendo mais nada de desatinos sexuais. Trabalha, puxa conversa, derruba vinho, oferece uma taça... peralá!
“Cecília, tem algo estranho no banheiro e acho que é melhor ires lá” “O que foi?” “Melhor ires lá”. Nessas circunstâncias, não há lugar melhor que o banheiro pra aliviar o tesão. Era só para segui-la e ter o espaço que eu precisava pra sossegar a Cecília. “Ah, a saboneteira caiu e está derramando tudo”. Coloco Cecília contra a parede e direciono seu rosto para mim, assim poderia olhar nos seus olhos e lhe dar o beijo reprimido. Mais uma vez ela foi rápida. Com as mãos sujas do sabonete líquido que tentava recuperar, esfregou com gosto no meu rosto. “Gosta de um sabãozinho, é?”. E saiu feito cometa, ou criança, sei lá. Outra vez me deixou paralisada. Respirei fundo, lavei o roto. Zanzei mais um pouco com o grupo de colegas e fomos embora. Não me despedi. Essa tá na conta.
Não vou buscá-la. Mas vou destrinchar cada pedacinho dessa histérica, quando ela estiver pedindo misericórdia. Ah, vou! #Humph
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