Em janeiro de 2009, produzi essa postagem:
Qualquer pessoa, em sã consciência, deseja viver muito. Morrer velho é a aspiração certa de todos.
Para isso, é preciso ter saúde, alimentar-se direito, zelar por si mesmo e ter sorte, ao final das contas.
Uma
grande parte da responsabilidade de se alcançar este fim,
evidentemente, é nossa; mas desde que saímos das cavernas e adotamos
formas gregárias de viver, criamos mecanismos de proteção que vão além
da mera auto-defesa. O Estado, ou qualquer outra forma de organização
humana, é o encarregado de prover a proteção da vida daqueles que vivem
sob suas leis ou regras. É assim desde tempos imemoriais.
Em
nosso rincão, porém, esta obrigação não vem sendo cumprida. Morreu mais
um ontem, que não chegou nem perto da terceira idade. Com 30 e poucos
anos, o advogado Marcelo Castelo Branco Iúdice foi mais uma vítima da
violência que assola o Estado.
Marcelo não era meu amigo. Era o
que se convenciona chamar de “conhecido”, alguém com quem não se tem
intimidade, mas cujo rosto é familiar pelos contatos frequentes.
Cumprimentava-o sempre no fórum, em reuniões de classe, em restaurantes,
em encontros de advogados. Era ainda muito jovem, e de aparência
jovial. É mais um a quem o Estado negou o direito de morrer velho.
Ontem
ele, anteontem um médico renomado de 54 anos, um pouco antes um
sociólogo e blogueiro de pouco mais de 40. Tantos outros já foram
vítimas, em bairros centrais ou periféricos. Nada disso abala a
sonolência dos órgãos de Segurança Pública. Se antes a sensação era de
insegurança, nas infelizes palavras de um ex-governador, hoje ela é de
completo abandono. Vivemos o verdadeiro faroeste caboclo, sem apelo a
ninguém e sem consolo – afinal, a morte não tem meio-termo, como dizia o
poeta Cacaso.
Enquanto isso, em boa parte da capital, o ódio e o
desalento da população alimentam novos criminosos, criados na forma de
justiceiros. Retornamos ao tempo da auto-defesa, sob o olhar
placidamente bovino da Administração Pública.
Cuidado, meus
amigos. Previnam-se de todas as formas possíveis. A Grande Ceifadora tem
brandido sua foice próxima a nossas cabeças, todos os dias, em todos os
cantos. Estamos comprovadamente sós.
Só não podemos fomentar a
sede de vingança privada. Somos humanos e, portanto, maiores que este
conceito irracional. O Estado é quem deve cumprir sua parte. Cabe a nós
chamá-lo à razão.
Lamento, por fim, iniciar o ano produzindo uma postagem destas. É mais um direito que o Estado nos nega: o da alegria.
Hoje, 4 anos e 8 meses depois, só mudaria o nome da vítima - de Marcelo Iúdice para Luigi Freire. A sensação de desalento e abandono é a mesma. Infelizmente.
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