Lala (d), Dalia e Cosmo
Flor de Manita
Tudo culpa do meu filtro, que não é o solar: duas situações me remeteram rapidamente ao Pará. Uma delas, o delicado e duro filme mexicano “Las buenas hierbas”. Outra, o projeto da ONG CoHabitarUrbano.
O filme é um mergulho na mata e na tradição do uso de ervas medicinais por famílias mexicanas. Cenas lindas e suaves em jardins familiares, onde gerações tratam de catar ervas, feito um passeio casual. Tudo tão reconhecível para os personagens como para mim. Mas nem tudo são flores. A matriarca desenvolve Alzheimer e seu proceso de perdas e ganhos coloca a filha em dilemas germinais e terminais. Até onde é possível suportar a dor alheia, especialmente quando este “alheio” é a própria mãe? Tanto desvelo e tristeza culminam no assassinato da mãe pela filha, aquele velho desejo inconsciente, segundo algumas concepções da Psicologia. A filha tem um filho pequeno que tudo vê. Ou quase tudo.
A trilha sonora de “Las buenas hierbas” é um encanto, feito encantaria. E esse é um elemento tão orgânico quanto as plantas e os personagens. Leva ao devaneio, assim como o drama nos põe com os pés bem no chão.
Impossível não lembrar dos jardins da minha casa; das idas a Quatipuru, onde minha mãe nasceu; das recomendações da minha avó e parentes. É bem verdade que sempre fui muito mais alopática do que adepta de chás para acalmar os nervoso ou de bolsa de água morna para aliviar as cólicas mensais. Mas até hoje adoro preparar meu próprio banho cheiroso. Comprar as ervas no Ver-o-Peso, macerar cada uma delas, deixá-las no tempo e me banhar com a água sempre que der vontade. E, claro, também foi inevitável ficar de bubuia, reflexiva, com a escolha entre a dor da vida ou a da morte.
Já o projeto “48 Open House BsAs” me levou até as curiosidades peculiares a tantas famílias. Aquela de saber qual aparelho de televisão novo o vizinho comprou; que móveis trocou; se tem espelho no teto do quarto. É que o projeto da ONG CoHabitarUrbano reproduz, neste final de semana, em Buenos Aires (AR), a iniciativa de fazer com que se abram ao público 60 edifícios históricos – outros nem tanto -, belos e curiosos – ou as duas coisas também, como bem descreveu o jornal Página / 12. Ou seja, qualquer cidadão vai poder bisbilhotar espaços privados e mesmo ter uma visão diferenciada da cidade, a partir da janela alheia. Achei ótima a idéia, afinal, aderiu quem topou, nenhum prédio foi obrigado a escancarar suas portas. No que vai dar essa experiencia que certamente colocará frente a frente pessoas que normalmente não compartilham os mesmos espaços? Não faço ideia, mas estou curiosa para saber. Não vou alcançar 60 prédios, mas vou fazer minha lista para bater pernas. Depois eu penso se conto tudo ao pé de ouvido ou não.
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