sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A luz bruxuleante de uma poronga - parte II

 Feito menino que se lambuza com melado assaltado da despensa do avô seringueiro, nalgum canto das florestas da Amazônia Ocidental, eis-me aqui contrito, lacrimejando alegrias imponderáveis, celebrando junto a todos nossos ancestrais, grato pela oportunidade de comungar com esta gente bandoleira que se alimenta de luz coruscante e calor humano.

Quando os espelhinhos e miçangas são postos ali nas bordas da terceira margem, na confluência de um ponto qualquer do espaço-tempo, estou sempre atento. Ora pescando, ora mergulhando, ora descansando nalguma praia, ao amanhecer, colho palavras orvalhadas de profundo senso estético. Lambuzo-me novamente. Abro o coração e a vida toda ao meu redor vem me habitar. 

Corisco, Labareda e outros tantos que riscam no céu e na terra prosas e versos, depositam suas armas, arrancam as roupas e caem n'água. Meninos e meninas, um a um, mergulham de cabeça, uns voando de castanheiras altas, outros vindo em voos rasantes, rio acima, outros se teleportando... 

Poucos se conhecem, mas nos confraternizamos feito criança nos parquinhos da infância primeira quando somos todos livres para amar e dar inocentes beijos babados...

Sigamos entrelaçados, letra a letra, raio a raio, calorosamente irmanados!

(Sabá de Abadia, das Terras de Rondon, contente e grato)

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