segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Cenas do cotidiano de Belém


As fotos acima são de Lagos, a maior cidade da Nigéria e a segunda maior do continente africano, só perdendo para Cairo, no Egito. A Nigéria é um país de mais de 148 milhões de habitantes, cuja expectativa de vida era, em 2005, de 43,3 anos, a mortalidade infantil era de 114,4 crianças a cada mil nascidas vivas e o PIB per capita era de US$ 863,00 e no ranking do IDH, está em 158º lugar. Neste cenário, parece-me natural que ordenamento urbano, utilização cidadã do espaço público e segurança não sejam as primeiras preocupações do nigeriano. Ele precisa, antes de mais nada, sobreviver.

No entanto, por volta das 11:30 horas de hoje, no trecho que vai da Praça Batista Campos ao bairro do Reduto, no caminho que passa pelo Shopping Iguatemi, na Padre Eutíquio – centro, portanto, da cidade –, constatei que Belém caminha a passos largos para a realidade urbana de Lagos.

Vindo da Procuradoria Geral do Estado, em uma das esquinas da praça, a caminho de meu escritório, deparei-me com um cenário de balbúrdia e desrespeito ao espaço público, coonestado pela atuação monetarista dos agentes de trânsito da CTBEL, que é francamente inaceitável.

No quarteirão da Padre Eutíquio em frente ao Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, agentes da Companhia guinchavam veículos estacionados na margem direita da via. Dois carros da CTBEL davam guarida ao caminhão-guincho. No quarteirão seguinte – menos de 100 metros adiante, exatamente em frente ao Iguatemi –, um ônibus e um carro particular, envolvidos em um acidente, estavam parados na pista central de rolamento da via, atrapalhando o tráfego. Não havia nenhum guarda da CTBEL a orientar o trânsito; quem o fazia era o cobrador do coletivo. Poucos metros atrás, dois agentes orientavam a remoção dos veículos estacionados.

Os demais automóveis, assim, eram obrigados a desviar caminho, circundando os abalroados. Porém, os ambulantes invasores das calçadas da Padre Eutíquio forçavam as pessoas a circular e a ficar na beira da rua, no ponto de ônibus em frente à Galeria Portuense e no espaço posterior ao shopping. O trânsito, obviamente lento, era presenteado, mais alguns metros à frente, com novo engarrafamento, natural na esquina da travessa com a Almirante Tamandaré.

Seguindo meu caminho, na esquina da Rua Gama Abreu com a ruela que margeia a Praça das Sereias, em frente às Lojas Americanas, ao Bradesco e à Secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (antiga SEICOM), uma mulher, diante de todos, parou seu carro na via, na posição de quem dobraria para a Gama Abreu, trancou-o e, deixando-o ali, atravessou tranqüilamente a rua em direção ao IEP. Não precisaria dizer que, com uma das vias fechadas pela estultícia, o trânsito naquele trecho, que também é normalmente lento, piorou muito.

Ao chegar no escritório, ligo o computador e deparo-me com a notícia dada pelo Barretto, nos posts abaixos, sobre o assalto ao HUJBB. À raiva somou-se o medo.

Este é o retrato de Belém, minha pobre, triste e ainda assim amada cidade, em uma segunda-feira de dezembro.

Nova Déli, nada, Juvêncio. Lagos cai bem melhor.

Um comentário:

Carlos Barretto  disse...

Tive um dia realmente duro hoje, FRJ. Passei por todo este trânsito que vc passou e, ao chegar ao trabalho, ainda tive que testemunhar todas aquelas cenas de guerra.
Lagos sim! E à passos rápidos!