sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Sangue sertanejo


Lembram do projeto Grande Encontro? Em vários discos, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Elba Ramalho dividiam o palco e cantavam seus grandes sucessos. Muita gente torcia o nariz. Tirando o aspecto meio fake, a intenção até que não era ruim. O resultado, porém, deixava muito a desejar e corroborava o dito popular, sobre o inchaço populacional do inferno devido aos bem-intencionados.

Muito antes dos Grandes Encontros, houve um encontro mais verdadeiro: os mesmos Geraldo Azevedo e Vital Farias, então acompanhados de Xangai e Elomar, cantaram suas composições em conjunto. Geraldo e Vital, já naquela época e mais ainda depois dela, fizeram muito sucesso na grande indústria musical. Venderam muitos discos e ganharam dinheiro com direitos autorais. Suas canções foram gravadas por todos os artistas nordestinos de projeção da fase pré-axé - Elba e Zé Ramalho dentre eles.

Mas a pérola verdadeira dos discos Cantoria (creio que 2 tenham sido lançados) era Elomar Figueira Mello. Nascido no interior de Vitória da Conquista, na Bahia, próximo à divisa com o norte de Minas Gerais, Elomar tem em sua obra um profundo sotaque sertanejo. As letras algo místicas, com muitas referências a crenças e lendas do Sertão, mesclam-se em harmonias semelhantes às usadas pelos trovadores da Idade Média. Outras falam da realidade e do dia-a-dia do sertanejo, o ser forte descrito por Euclides da Cunha.

Suas canções lembram muito o Sertão descrito por Mario Vargas Llosa em A Guerra do Fim do Mundo (editado, no Brasil, pela Livraria Francisco Alves Editora, 1982), história de Antônio Conselheiro, líder espiritual que criou, no final do século XIX, o Arraial de Canudos.

Fora dos álbuns Cantoria, ouvi muito Elomar na minha adolescência em discos da Kuarup, uma gravadora independente que, acredito, não existe mais. Há um disco belíssimo, chamado ConSertão, no qual Elomar é acompanhado de monstros da música instrumental brasileira: Arthur Moreira Lima ao piano, Heraldo do Monte na viola sertaneja e Paulo Moura no sax. No repertório, os clássicos Heitor Villa-Lobos e Francisco Mignone misturam-se a obras do próprio Elomar, que comprova sua dimensão também clássica.

Grata surpresa, o trovador sertanejo possui um sítio na internet. Quem quiser saber mais dele e de sua obra, pode visitá-lo clicando aqui.

No vídeo musical de hoje, Elomar canta "Cantiga de Amigo", de sua autoria. Bom fim de semana a todos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Golaço ,
Assistí Elomar , milenovecentosenãoseiquantos , no teatro Cecília Meirelles , uma paixão só.
Abs
Tadeu

Francisco Rocha Junior disse...

Tadeu, Elomar é um mago.
Abs.