terça-feira, 23 de setembro de 2014

Neruda de memórias

Em 23 de setembro de 1973, muitos deram adeus a Pablo Neruda. Esse chileno que enveredou pela política pública, pelos ideais comunistas, pela poesia, que talvez tenha sido o banquete em que mais desfrutamos de sua gentileza.

Aproveito a data dos 41 anos de morte de Neruda, que sempre me faz lembrar do filme O Carteiro e o Poeta, para deixar um de seus escritos que nos remetem a um cenário que assolou quase concomitantemente diversos países da América Latina: a ditadura militar. Uma das diferenças é que algumas dessas nações já avançaram no processo de resgate de informações sobre os direitos violados. Já o Brasil, engatinha e vacila bastante. O artigo de Eric Nepomuceno, por exemplo, sob o título "O pacto do silêncio ainda vigora no Brasil", publicado em periódico argentino, foi um alento pra mim, porque reverbera o que não sai da cabeça, mas também foi um tapa na cara envergonhada de tanta dor.

Abro aqui um parêntese para publicar um parágrafo que traduzi por conta própria:

"Alguém está equivocado. Aliás, alguém não cumpre uma regra legal e institucional. Ou o comandante do Exército desobedece, de maneira clara, seu comandante supremo – a presidenta da República – ou a comandante não comanda nada" - diz ele ao se referir ao descaso do militar à convocação da Comissão Nacional da Verdade e que passou como se nada fora.

Neruda, meu caro, eu também peço, peço punição.

LOS ENEMIGOS

Ellos aquí trajeron los fusiles repletos
de pólvora, ellos mandaron el acerbo
          exterminio,
ellos aquí encontraron un pueblo que cantaba,
un pueblo por deber y por amor reunido,
y la delgada niña cayó con su bandera,
y el joven sonriente rodó a su lado herido,
y el estupor del pueblo vio caer a los muertos
con furia y con dolor.
Entonces, en el sitio
donde cayeron los asesinados,
bajaron las banderas a empaparse de sangre
para alzarse de nuevo frente a los asesinos.

Por esos muertos, nuestros muertos,
pido castigo.

Para los que de sangre salpicaron la patria,
pido castigo.

Para el verdugo que mandó esta muerte,
pido castigo.

Para el traidor que ascendió sobre el crimen,
pido castigo.

Para el que dio la orden de agonía,
pido castigo.

Para los que defendieron este crimen,
pido castigo.

       No quiero que me den la mano
       empapada con nuestra sangre.
       Pido castigo.
       No los quiero de embajadores,
       tampoco en su casa tranquilos,
       los quiero ver aquí juzgados
       en esta plaza, en este sitio.

       Quiero castigo.

***
P.S: Acabei lembrando depois de postar que o documentário "De Naftalí a Pablo", exibido pelo canal Encuentro, do Ministério da Educação, da Argentina, é muito bom. Quem tiver a oportunidade, pode grudar os olhos no filme.

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