quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Carta de uma amante ao seu amado



Meu amor, estou tão triste, tão cheia de angústia, como nunca estive na vida. Ou como poucas vezes; na morte do meu cachorro e da minha mãe, por exemplo.
Paradoxal é a nossa situação atual, na qual eu deveria estar super-feliz pela tua decisão de se separar da tua esposa "sob os olhos da lei" e de dar um passo real em direção aos nossos sonhos. Na verdade estou, mas sinto que a tua decisão foi precipitada por essa coisa que aconteceu, esse lance infeliz do coito com essa bruxa da tua mulher. E que hoje falaste pra ela sobre antecipar a separação como forma de "compensar" o "erro", sei lá...
Tento passar por cima do primeiro mecanismo de defesa do ego, a negação, para cair de para-quedas (ou de guarda-chuvas?) num mar de angústias, de "por quês", de "porras" e "caralhos".
Acho que faltou tempo para conversarmos direto e reto sobre isso, eu e tu, deitados, rosto perto do rosto, respirando juntos.
Senti que ontem fugiste dessa conversa, no começo da noite, quando tivemos a chance. E que hoje provavelmente te esquivarás de tão incomodo assunto.
Já te bastam as DR's infinitas!
E a merda toda é que agora não posso nada, nem te ligar, nem teclar, nem porra nenhuma.
E o tempo passou, a madrugada avançou, o sono fugiu, deixando lugar a uma enorme angústia, a um vazio infinito onde deveriam estar respostas tuas, argumentos e sentimentos teus, junto aos meus.
Mas não te escrevo por outro motivo, senão pra te dizer que te amo e que estou tentando, de verdade, absorver tudo isso.
Preciso recobrar a confiança em ti, perdida num ato de luxúria legalmente permitida.
Tenho, no entanto, máxima confiança em mim e no amor que entre nós brotou tão espontâneo.
*pausa
Enquanto isso às ondas batem na praia do Atalaia...
*pausa
Que se fodam, as ondas, a praia e o resto do planeta!
Por que não consigo chorar, amor meu?!...
Bom dia!

2 comentários:

Alan Wantuir disse...

Só muito amor mesmo, pois, se não fosse isso, e se eu fosse essa pessoa que lamenta, usaria a máxima de um grande escritor chileno P.N., onde a melhor forma de se esquivar de um monte de coisas indesejadas é o esquecimento e a indiferença.

Scylla Lage Neto disse...

Pois é no desejo que se alimenta a memória. Alan Wantuir, e é ele que, no final, faz a diferença.
Um abraço!