quarta-feira, 12 de agosto de 2009

E se fosse homem?

Na edição de ontem, data-magna dos advogados, o douto professor e advogado CJK postou o seguinte:

Prescrição Diária

O senador Mário Couto (PSDB), conhecido como o rei do aparte no Senado Federal, aproveitou o discurso do senador César Borges (DEM-BA) com muitas críticas ao governador Jacques Wagner (PT), para fazer um paralelo entre o Pará e Bahia.

Afirmou o senador tucano que a situação do Pará é a mesma que o baiano descrevia para a Bahia: gestão caótica, desorganização, falta de segurança pública, briga com aliados políticos, etc. Mas o marajoara quis também saber se havia mais uma coincidência, se o governador baiano depois do expediente, "ia para os bares"...

O senador baiano, educadamente, apenas respondeu que trazia aquelas denúncias com grande constrangimento, pois preferia não ter que relatar estes fatos sobre seu Estado. E seguiu adiante no seu discurso.

Mário Couto, sentado na bancada, sorria. Já havia conseguido efetuar a sua dose diária de crítica a governadora Ana Júlia.

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Coitada da governadora! Não tem ninguém para defendê-la no Senado Federal, ou pelo menos para estabelecer o contraditório. Os três senadores do Pará sobem a tribuna só para criticá-la.

Os líderes petistas estão aparvalhados com a crise política, não se preocupam com a correligionária nem um pouquinho, tem mais o que fazer.

Só a senadora Fátima Cleide, de Rondônia, sua amiga pessoal, é que toma as suas dores.

Nos comentários, um anônimo retrucou, dizendo bem-feito à governadora, porque ela supostamente não se daria o respeito.

O sábio poster discordou, aduzindo que no caso de Ana Júlia, tratava-se de preconceito. Afinal, já houve governante que até canja (ou gig, como dizem os iniciados) em bar fazia e ninguém se espantava.

Tem toda razão, o CJK. Desde o início do governo Carepa que as mídias bombam notas de preconceito contra o fato da governadora ser solteira, namorar, dançar, se divertir e eventualmente beber. Fala sério! Se fosse homem, ninguém criticaria. Alguns até achariam-na admirável, sem a arrogância do poder, até mesmo pegadora, se fosse o caso.

Este comportamento machista é o reflexo da nossa doce província. Nem sempre tão doce, com sua face mais colonizada espelhada naquilo que José Sarney chamaria de liturgia do cargo.

9 comentários:

Lafayette disse...

É o que sempre falo, Francisco, quando vem este papinho à tona: se fosse o Aércio...

Anônimo disse...

Sábio comentário.
Sabe, às vezes parece que o Tapiocouto está ficando precocemente senil...

Francisco Rocha Junior disse...

Na mosca, Lafa. Excelente lembrança.

Francisco Rocha Junior disse...

Das 14:02, acho que o senador bate muito bem da bola. O problema (ou a intenção) é outro(a).

Anônimo disse...

Não vejo machismo nenhum em se falar que a governadora do estado bebe.
O Lula bebe e todo mundo mete o pau nele. Chama de pinguço e etc.
O Helio Gueiros bebia (e muito), e era chamado de papudinho. Ninguém refrescava o velhinho.
Porque agora falar da Ana Julia é machismo?

Francisco Rocha Junior disse...

Das 17:39, evidentemente, nem todo mundo refresca político que bebe, namora, dança e é irreverente. Nem todo mundo quis ver a amante do Renan Calheiros na Playboy, nem achou o máximo o cara pegar bem, como dizem por aí.
Mas a maioria - e a mídia reforça essa hipocrisia - se incomoda com o fato da governadora ter sua vida pessoal de mulher independente, curtir sua onda sem estar aí para o que falam, namorar com quem quiser, beber quando puder. Leia bem os noticiários e você concordará comigo.
O caso sob comentário, então, é ainda mais emblemático: um conhecido ex-contraventor, que enriqueceu às custas do jogo do bicho, posa de moralista e condena a postura de Ana Júlia em sua vida pessoal, com propósitos claramente políticos (e de politicalha). Francamente, é hipocrisia, machismo e cinismo, sim.

. disse...

POis é, mano Lafa, e o Aécio, pegador de misses e outras cositas mais... Esse pode, né?

E o nosso ex-governador que adorava dar uma canja pelos bares da vida (coisa que eu achava o máximo) ninguém se reportava com ironia a isso.
Mas ninguém pode ver a Ana curtindo a vida dela que logo vêm todos cheios de preconceito.

Na semana passada, aquela coluna elitista do Guilherme Augusto publicou uma nota com o título "Locomotiva", onde dizia que a governadora teria sido vista com alguns amigos em bar de alto nível da cidade já tarde da noite. Meeeeeermão, ela não "teria sido vista"! Ela estava numa sexta-feira, como qualquer pesoa pode, com amigos íntimos tomando um vinho. Qual é o problema???´E que título malicioso é esse???? E a ilustração nem se fala. Uma mulher com a cara toda torta, de bêbada, com um copo na mão.

É por essas e outras que me enoja essa elitizinha de merda dessa cidade.
Ok, esse problema não está só aqui. Mas aqui tem uma galera que se acha donas das informações e do poder local.

Ora vão...

Anônimo disse...

Mas o Guilherme Augusto se redimiu. Para acabar com as "dúvidas", em 11/07,escreveu uma nota explicando a todos nós o que significa locomotiva, algo assim: gente de expressão... termo muito usado na década de 80... Só que não pega né? Quem nasceu para ser rei nunca perde a magestade. Hoje, na coluna dele, tem uma notinha ótima sobre os sem terra e o uso de camisinha.Como, para mim, usar camisinha passa necessariamente pelo nível de consciência de homens e mulheres, perdeu uma excelente oportunidade de usar bem aquele espaço da coluna. Quem sabe amanhã ele possa justificar o que queria dizer.
Maria Souza

Itajaí disse...

O machismo no caso é instrumento de uma postura ideológica. Além dos já citados, como comprovação do olhar enviezado que a imprensa dá a esse caso, inclui-se, neste Pará, um governador e depois prefeito que vivia numa manguaça só, a ponto de as vezes comprometer a chamada "liturgia" do cargo.
Nem teve quem o aconselhasse a procurar o AAA.
Mas, não esqueçamos que em termos de hipocrisia entre nós é emblemático o caso do caudilho Magalhães Barata, que vivia em concubinato com uma senhora em Belém enquanto mantinha esposa e família no Rio de Janeiro.
Claro que, quando a casa caiu na morte do Barata, sobrou para a coitada da amante, de imediato escorraçada da casa do governador pelo arcebispo Dom Alberto Gaudêncio Ramos em nome da moral e dos bons costumes da família paraense.
Não nos faltam demonstraçoes do tipo.