domingo, 29 de novembro de 2009

De todos os lados

Da Folha de São Paulo, edição de ontem:

A Polícia Federal concluiu a segunda fase da Operação Castelo de Areia e apontou em um relatório indícios de doações ilegais feitas pela construtora Camargo Corrêa a políticos e superfaturamento em várias obras públicas pelo país.

O trabalho da PF poderá resultar em um nova denúncia do Ministério Público na semana que vem e no desmembramento das apurações para os tribunais superiores em Brasília, onde os políticos têm foro privilegiado para serem investigados.

Com base em laudos produzidos pelo Instituto Nacional de Criminalística, a Procuradoria também poderá pedir a abertura de novos inquéritos nos Estados em que as obras com indícios de sobreço foram executadas. A construção do trecho sul do Rodoanel Mário Covas é uma das obras que passaram a ser investigadas na segunda fase da operação.

A primeira etapa teve como foco supostos crimes de lavagem de dinheiro e remessa ilegal de dólares para o exterior cometidos por executivos da empresa- quatro diretores já foram denunciados à Justiça.

Segundo reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" publicada ontem, o delegado da PF Otavio Margornari Russo anexou ao relatório documento que cita 208 obras e contratos da Camargo Corrêa entre 1995 e 1998 e relaciona supostos repasses em favor de políticos e servidores. Um deles é o secretário municipal de São Paulo Walter Feldman (PSDB-SP), que aparece associado a US$ 5.000 mensais de janeiro a dezembro de 1996 e a outros US$ 20 mil, de 1998.

Há ainda referências a "Palácio Band" (US$ 45 mil em 1996), ao chefe da Casa Civil paulista, Aloysio Nunes Ferreira (US$ 15.780 em 1998), ao ex-senador Gilberto Miranda (US$ 50 mil em 1995), à Companhia Energética de São Paulo (US$ 2.389.927 em 1997) e às siglas PMDB, PFL (DEM), PSDB, PPB (PP) e PTB.

O advogado Celso Villardi, que defende a construtora, disse que ainda não teve acesso ao relatório e afirmou "lamentar" o vazamento para a imprensa.

Feldman disse que vai protocolar na PF um pedido de informações sobre o caso. "Não tenho de dúvida que são os primeiros sinais de um processo político que se avizinha", afirmou. Aloysio disse que todas as doações que recebe são legais.

As eleições do ano vindouro se aproximam e, cada vez mais, o embate eleitoral vem à tona. Passado o pleito, poderemos dizer que nunca antes na história deste país - ou, talvez, somente 20 anos atrás, na primeira eleição direta da Nova República - tivemos uma eleição de tão baixo nível. Não discutiremos projetos; ouviremos muitas acusações, de parte a parte. Mas isto pode vir a ser bom, muito bom para o país: quem sabe não abra os olhos do eleitorado?

Bom mesmo seria se extirpasse os cancros que há tanto tempo estão por aí, na política nacional. Ou, ao menos, renovasse práticas.

A respeito da reportagem da Folha, um comentarista do blog do Luiz Carlos Azenha fez uma indagação pertinentíssima: quando, afinal, sairá a CPI dos corruptores? Desencantado, ele mesmo responde: nunca.

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