terça-feira, 20 de julho de 2010

Chamem os Palhaços

Você não adora um faz de conta?
Eu temo que a culpa é minha
Julguei seu querer igual ao meu.
Desculpa, minha querida,
Mas onde estão os palhaços,
Eles já deveriam estar aqui...
Depressa, chame os palhaços!
...................................................
...................................................
Não é um luxo, não é estranho,
Perder tempo nessa altura, no picadeiro?
Pois onde estão os palhaços?
Depressa, que entrem os palhaços!!
Oh, não se preocupem, eles estão aqui.

(Trad. livre de Send in The Clowns de S. Sondhein)


Em língua inglesa, send in the clowns, que até virou título de música alguns anos atrá, descreve a situaçào circense em que os palhaços são chamados ao picadeiro para pontuar a mudança de atrações do show, ou para distrair a platéia quando algo dá errado; por exemplo o leão engoliu o domador e está engasgado. Em resumo: É uma manobra diversionista que tem origem lá nas arenas romanas.
No mundo real, contudo, no mundo de um estado rico de recursos naturais e de perspectivas sociais empobrecidas, esse tal send in the clowns dos bacanas da Broadway, no popular pode ser entendido como tapar o sol com a peneira.
Ora, foi o que entendi quando autoridade do terceiro escalão, para quebrar o constrangedor silêncio do secretário paraense de Educação, por suposto quem deveria madrugar no dia seguinte para prestar conta do pífio resultado do estado no último Enem, anunciou sob a sombra dos paneiros, desnudo ao sol inclemente de um julho que não esconde a vergonha denunciada e menos ainda o absurdo da justificativa do injustificável:
O Enem não é um ranking que mede o desempenho escolar, por não avaliar o desempenho da escola, mas do aluno. “É uma avaliação do estudante enquanto indivíduo, não como escola.
Que lição nos dá o ilustre coordenador do ensino médio da Secretaria de Educação do Estado do Pará!, que usa com a sua melhor didática sentar a palmatória moral no aluno, pelo visto de ser um medíocre que não expressa a qualidade da escola que o educa.
Então tá, professor, nem precisa explicar mais nada, tá tudo dominado! Sinistro. Melhor fazer assim: tá na hora de chamarmos os palhaços! E olha, mestre, nem precisa: veja os cidadãos, já estamos aqui.

5 comentários:

Prof. Alan disse...

Não disse que iam botar a culpa nos alunos?

Que iam falar qualquer coisa, menos assumir responsabilidades?

Rapaz, eu queria ganhar 1 real pra cada previsão que eu faço, sobre o comportamento dos homens públicos. Estaria rico!

Francisco Rocha Junior disse...

Itajaí,

Um funcionário de Secretaria de Educação, ainda que de 3o escalão, não pode usar a expressão "o estudante enquanto indivíduo". É de uma ignorância atroz. Só faltava iniciar com um "a nível de educação" e terminar dizendo que a educação, no Pará, pretende alcançar "todos e todas". Francamente...

Abs.

Yúdice Andrade disse...

As pessoas, de um modo geral, não têm a perspectiva de que, se o aluno não se interessa pela escola, é porque a escola não soube fazer-se interessante para ele. Isso é um problema institucional e político, em termos de política pedagógica, p. ex., para a rede pública.
É claro que, para um mau aluno, não há boa escola que resolva. Mas e a grande maioria de alunos comuns que, devidamente estimulados, seriam capazes de fazer grandes coisas?
Sendo profissional da educação, pouca coisa me magoa tanto quanto os índices escolares paraenses.

PS - Ando interessadíssimo em saber o que as escolas particulares têm a dizer sobre o ENEM.

Lafayette disse...

...faltam empregos!

Prof. Alan disse...

Yúdice, vou dar uma de Mãe Dinah de novo, e já te adianto o que os donos de escolas particulares vão dizer: que o ENEM não mede o desempenho escolar, e sim do aluno.

Opa, você já viu isso antes?

Pois é, eles vão usar a mesma desculpa furada dos políticos.

E vai ficar tudo como dantes, sem que nem se mexam os conselhos estaduais e federal de educação. Ou melhor, no caso das escolas particulares, como tem medo de perder aluno$, eles vão fazer algo, nem que seja alguma maquiagem pra enganar os pais.

O que pode mudar nisso tudo, lógico, é os políticos chamarem os palhaços...