sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ah, esses personagens!

Ah, não é bom nem mal. É só gostoso de apreciar essa diversidade de personagens com que somos capazes de “topar” na vida. Sim, porque podemos não ser capazes disso. Podemos simplesmente não enxerga-los. O fato é que estou me deliciando, a ter água na boca, sabe? Somente duas disciplinas e três maestros geniais. Há quanto tempo não me deleitava assim? Sei lá! Tive outros prazeres, claro, muitos, ao abrir mão deste. Agora é na sala de aula, esta moldura velha e decadente, que me regozija. Há que se renovarem os métodos, talvez. Ainda assim, estou em berço esplêndido.
Espistemologia e História Contemporânea. Densos e leves, ao mesmo tempo. Como o amor e o ódio. Duas faces da mesma moeda. Indissociáveis. Frederico e Félix Shuster. Pai e filho. E Aníbal Viguera. Métodos muitíssimo diferentes de ministrar suas aulas e o mesmo poder de sedução, ao menos sobre mim. Que encanto! Que bom ser encantada! Faz-me lembrar de algumas aulas magistrais que já tive na UFPA, em Belém. Como a do jornalista e sociólogo Lúcio Flávio Pinto. Não era só a sala de aula do campus básico que ficava lotada durante seu horário de classe, era também da porta para o corredor. Vinha gente de diferentes cursos e de diferentes níveis de formação. Porque a aula dele era fantástica. Tinha mais que o dom do saber, tinha o dom de encantar. E que mais um professor precisa, além dessas duas virtudes?

Lá se foi a década de 90. Tive duas disciplinas com Lúcio: Edição e História de Imprensa. Pois me sinto com o mesmo desejo e sede de aprender e produzir agora, que estou aqui em Buenos Aires, cursando mestrado em Ciência Política e Sociologia, na Flacso, com a perspectiva da Comunicação.
Frederico Shuster é "daquele jeito", contador de casos, que passeia pelos conceitos como quem sacode os pés dependurado numa roda-gigante. Um garotão e, como todos, quer saber-se interessante. Fala e ri de si mesmo, sabedor e seguro de si. Inteirou-se da origem de cada um de nós logo no primeiro dia e tratou de fazer bom uso de cada informação durante suas travessuras pedagógicas há quase dois meses. Diríamos nós, meninas: um fofo! Passa por Popper, Wittegenstein, Freud, Kuhn, Rashoman, Russel e muitos outros. Até pela sua molecagem com Sir. Sherlock Holmes ele passou. Ah, um fofo!
O pai? Acho que foi quem lhe ensinou tudo isso. Um senhor de cabelos grisalhos que rareiam e que é partido ao lado, para cobrir a careca, sabe? Já com golpes do tempo, ele tem uma corcunda. Mas está sempre de pé, charlando pelo corredor central entre os blocos de cadeira milimetricamente dispostos. Ele lê papéis escuros e rotos. Rotos mesmo! Daqueles com as margens gastas. É atraiçoado, vez ou outra, e lê e volta às mesmas folhas de vez em quando. Ah, essa velhice, danada! Mesmo diante de risinhos dos mais novos, ele não vacila. É genial. Cumpre seus papéis e os dribla várias vezes, mostrando que sua sabedoria ainda está mais além de sua velhice. Um bom humor delicado e sutil.

Viguera, não. Viguera é severo. Quase intolerante. Soberbo. Mas de uma sagacidade que bota cada neófito de quatro. Distribui seus papéis sobre a mesa. Ocupa toda a mesa. E dispõe no quadro uma cronologia impecável para compor o cenário político, econômico e social de cada país da América Latina. Vai do macro ao micro, como a destreza de um grande cirurgião. Provoca. E as metáforas etílicas costumam saltar da sua boca facilmente. Acolhe e rebate cada comentário, como quem bate papo. Tenho medo e desejo. Tudo ao mesmo tempo, agora!

Tim-tim.

2 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

Mas que saudades eu tenho do Pará, não é? Pois é, nada mais encantador para um professor do que a soberba de uma aluna, rsrsrs. Divirta-se portenha, e que Deus a tenha no mundo encantador de uma sala de aula. Aproveite o máximo tudo isso. Bjs muitos queridona.

Erika Morhy disse...

Tenho saudades, mas não o suficiente que me busquem para o Pará. Tá bom aqui. AInda tem muito aqui que quero, mais que a saudade do Pará.
Obrigada, galega, pelos votos. Beijos pra você.
Já sabes que estás intimada a me encontrar quando estiver aqui em terras portenhas, não é?