quarta-feira, 17 de abril de 2013

Por onde anda?

Em maio de 2007, o saudoso Juvêncio de Arruda postou o seguinte texto (aliás, primoroso na concisão, no ritmo e na poética) no seu Quinta Emenda:

O Engenheiro Roberto
Roberto é um jovem de pouco mais de 20 anos.
Santareno, vive a mais de mil kms de casa, em Marabá, onde é aluno da primeira turma de Engenharia de Minas, no campus da UFPA inaugurado por Lula em fevereiro de 2006.
Infra de primeiro mundo, o curso do Roberto, construído com ajuda da CVRD. Professores doutores, laboratórios moderníssimos, ambiente acadêmico.
Mas Roberto sobrevive em condições duríssimas, dando aulas no primeiro grau da rede pública municipal, a R$ 4,20 a hora/aula. "Já dei aula até de geografia", disse-me encabulado, como se tivesse cometido uma infração.
Mora num kit net com mais cinco colegas - de diferentes cidades dos quatro cantos do Pará - que comemoram quando a mãe de um deles passa uma temporada por lá, sinônimo de roupa passada e comida decente.
Nas primeiras férias, saudoso de casa, encarou a Transamazônica na última viagem da temporada: o inverno havia começado e a estrada seria interrompida.
Não deu outra: foram cinco dias de viagem.
O busão quebrou duas vêzes, e Roberto, sem grana para mais de dois dias, pediu comida nas casas simples da beira da estrada.
Semestre seguinte a saudade apertou de nôvo e Roberto, escaldado, resolveu encarar uma carona nos caminhões da PA-150 até Nova Déli.
Três etapas, com escalas em Goianésia e Tailândia, para troca de caminhão.
Desembarcou na capital com R$ 10,00 no bolso e foi direto prá Estrada Nova, atrás de um barco para Santarém.
Encontrou o Nélio Correa, dos maiores, e pediu carona.
Ganhou, em troca de um dia e meio de trabalho, em cima de uma bóia, lavando o casco do navio. E tres dias de esfregão no convés de passageiros até chegar em casa.
Agora em julho Roberto quer repetir a dose, prá poder cheirar o suvaco das lindas santarenas e beijar a mãe, no bairro da Prainha, reduto dos arigós, como êle.
Ficou de passar cá em casa, antes de pegar o navio.
Vai encher a pança de comida e levar um farnel prá subir o Amazonas.
Vai levar, também, a admiração deste poster.
Roberto daqui mais tres ou quatro anos vai ganhar uma grana, muito bem empregado. Enquanto isso come o pão que o diabo amassou porque a família é dura e nenhuma entidade - tipo essas que tem grana para remunerar consultorias caríssimas - tem grana para ajudar os estudos do rapaz.
Há interesses maiores.
Inda bem que o Roberto é maior que eles.
Pisa aí, garôto! 

São comuns em programas de TV e sites esportivos quadros do tipo "por onde anda" e "que fim levou". Seria o caso, aqui, de perguntar (o que talvez nossa co-editora, a querida Marise Morbach, possa responder): por onde anda o Roberto?

3 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

Francisco, que legal! O Juca me contou sobre o Roberto, mas eu não conheci. O Juca tinha uma deliciosa mania de ler todos os pots para mim; e ficava triste quando eu não estava para ouví-lo. Me lembro bastante desta aí. Por onde anda o Roberto? Não sei!

Pedro do Fusca disse...

Que falta faz o Juca!

Marise Rocha Morbach disse...

E por falar em saudade, onde anda você, onde anda seus olhos que a gente não vê, onde anda......, ora, Pedro!