quarta-feira, 19 de junho de 2013

Carta aberta ao Embaixador do Brasil em Buenos Aires

Curioso: fui à marcha, aqui em Buenos Aires, contra a presidência de Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, e me juntei a poucas dezenas de pessoas. Mas ontem, na marcha em apoio às mais recentes manifestações no Brasil, iniciadas em São Paulo, me agreguei a cerca de mil pessoas. A maioria, sim, conterrâneos, de diferentes estados. Outros, simpatizantes, de diversos países. Um Torre de Babel emocionante e que fechou uma via da avenida 9 de Julio, considerada uma das mais largas do mundo. Polícia tão pacífica quanto o próprio movimento, que terminou na Embaixada, que recebeu uma carta e milhares de assinaturas para serem enviadas ao Gigante que Acordou.

Deixo aqui o texto (em português) contido na carta.

CARTA ABERTA AO EMBAIXADOR DO BRASIL EM BUENOS AIRES:

Nós, brasileiros, argentinos, e pessoas de várias nacionalidades, nos reunimos hoje, dia 18 de junho de 2013, em Buenos Aires, Argentina, em um protesto de solidariedade às manifestações que vêm acontecendo nas últimas semanas no Brasil.

Há quase 10 anos, o Movimento Passe Livre existe com o objetivo de “descatralizar” o transporte público. Mais uma vez a tarifa aumentou e o movimento foi às ruas. Durante as manifestações pacíficas realizadas em São Paulo, os participantes foram alvo de extrema violência repressiva por parte da Polícia Militar, em particular por sua Tropa de Choque. Essa violência foi marcada pelo uso abusivo das chamadas armas “não-letais”, já que os policiais, sem tomar nenhuma das precauções necessárias, atiraram diretamente contra os manifestantes bombas de efeito moral, gás e balas de borracha, além de fazer uso indiscriminado de cassetetes.

A reação das autoridades, de diferentes partidos e níveis de governo, diante dessa situação não corresponde ao que se espera em uma sociedade livre e democrática. A repressão, somada à negligência do Estado, teve o efeito de fortalecer o movimento, que tomou proporções inimagináveis, e hoje transcende inclusive as fronteiras nacionais.

A população brasileira vive um momento de expressão democrática. As pessoas querem decidir sobre as políticas públicas que afetam as suas vidas: os gastos públicos, os sistemas de transporte, a qualidade de vida nas cidades. Elas saíram às ruas para lutar por isso, mas sobretudo para reivindicar o próprio direito de sair às ruas e serem ouvidas.

Nós, hoje aqui presentes, somos levados por um sentimento de impotência, por estar longe, mas também de orgulho dos nossos amigos, irmãos, pais, mães, companheiros e companheiras que saíram às ruas em muitas cidades do Brasil. Estamos aqui em solidariedade aos feridos e às feridas, às vítimas de prisão arbitrária, e a todos que saíram às ruas e continuam na luta.

A truculência da polícia brasileira é tradição em um país historicamente marcado por um sistema repressivo, autoritário e violento que, neste momento, está sendo desafiado por pessoas de diferentes grupos e contextos. Hoje, o que essas pessoas têm em comum é a coragem e a vontade de mudança.

É para nos unir a esse movimento que realizamos este ato pacífico. Impulsionados pelo desejo de construir um Brasil melhor, oferecemos de Buenos Aires o nosso apoio.

5 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

Estou muito curiosa diante destes fatos todos; e sem respostas para a grande maioria deles. Bjs, portenha.

Silvina disse...

De arrepiar: A Comissão de Direitos Humanos da Câmara aprovou nesta terça-feira (18) o projeto de lei que determina o fim da proibição, pelo Conselho Federal de Psicologia, de tratamentos que se propõem a reverter a homossexualidade. A sessão que aprovou a proposta foi presidida pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que conseguiu colocá-la em votação após várias semanas de adiamento por causa de protestos e manobras parlamentares contra o projeto.
De autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), a proposta pede a extinção de dois artigos de uma resolução de 1999 do conselho. Um deles impede a atuação dos profissionais da psicologia para tratar homossexuais. O outro proíbe qualquer ação coercitiva em favor de orientações não solicitadas pelo paciente e determina que psicólogos não se pronunciem publicamente de modo a reforçar preconceitos em relação a homossexuais.
Na prática, se esses artigos forem retirados da resolução, os profissionais da psicologia estariam liberados para atuar em busca da suposta cura gay.

Erika Morhy disse...

Sim, Marise, há um largo espaço para exploramos...

Erika Morhy disse...

Adianto minhas desculpas pela demora na postagem dos comentários. E agradeço ao colega Roger por me avisar por email, que, como disse a ele, chegam a demorar 2 dias para cair na minha caixa de mensagens! Não sei o motivo.

Erika Morhy disse...

Silvina, acho que foi muito oportunismo do deputado que preside, indecorosamente, a comissão. No entanto, temos ainda (creio) que outras duas para dar seu aval a esta quase inominável proposta de "cura gay". E, depois, a votação do próprio plenário. Ou seja, temos margem para pressionar nossos representantes legislativos. Aliás, na mesma barca, o Senado aprovou o que considero o AI-5 da Saúde, vulgo Ato Médico... demais pro meu coraçãozinho... Obrigada pelas observações. E desculpe a demora na publicação de seu comentário.