quarta-feira, 1 de julho de 2015

Noites infames

Imagem que circula na rede sobre a programação


Uma noite infame. Esta é. No Brasil e em Buenos Aires também.

O que parecia apenas o dia seguinte de uma vitória parcial sobre um insulto à inteligência da nação canarinha, com a reprovação da mudança da maioridade penal de 18 para 16 anos, eis que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), dá o bote e põe novamente em votação o PEC 171. Duas infâmias, o projeto em si e o bote.

Mas vivendo na Argentina, impossível estar ao largo de um tema que poderia ser pertinente no âmbito acadêmico, mas tórrido nos corredores da Universidade de Buenos Aires (UBA). É ali que a Faculdade de Ciências Sociais (#Fsoc) está, nesta noite deste dia 1º de julho, garantindo uma programação baseada em “outras formas sexualizadas de viver no espaço universitário”. Nas redes sociais circulam imagens da agenda posporno, como denominam, e elas não me dizem tanto quanto me impressionam: qual o sentido de garotas seminuas (estou sendo generosa) praticarem sexo ao vivo e a cores? Uma espécie de cenas de sado explícito, se me faço entender.

Numa mesa, microfone é metido na vagina alheia. Noutro canto, um exercício de sexo a três, incluindo homens. E eu ainda não consegui entender o x da questão. Capaz que a coordenação do show possa explicar melhor, ou o diretor da faculdade, ou o reitor da UBA, porque exposta está a opinião de quem viu o que passou ou dos que souberam do que passou esta noite a três quadras de casa.

Até onde alcanço conscientemente a mim mesma, não condeno o sexo. Bem longe disso. Nem pretendo me manifestar com falsos moralismos. O que é preciso estar claro é a função de uma universidade, o que está pactuado socialmente. E creio que uma programação deste naipe não se enquadra, no mínimo. É isso que me impressiona.

O rompimento de limites, seja à Constituição, seja às práticas acadêmicas, também cumpre papeis importantes em muitos casos. Mas que não são bem estes que estamos presenciando em dias recentes.

Está aí o caso do jogador Java que dedou literalmente Cavani, na Copa América deste ano, agregando a isso a provocação de que o adversário deveria estar nervoso porque seu pai iria apodrecer na cadeia, referindo-se ao acidente automobilístico que tomou a vida de um ciclista. Isso cabe?

Tanto a votação da maioridade penal e quanto a programação posporno já ocupam os TT´s e a reflexão sobre os temas são muito válidas, para além das piadas que circulam inevitavelmente.

Queremos mudar os sistemas? Queremos novos conceitos e práticas de convivência? Jóia, vamos lá. Mas que os mudemos primeiro, antes de estuprar o modelo vigente.

4 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Também não entendi qual a natureza e a finalidade do evento acadêmico-sexual, minha querida. Penso que, sem um objetivo claro, mesmo boas ações podem se perder miseravelmente. E, com uma boa razão, mesmo aparentes agressões podem ser úteis para comunicar, provocar, levar à reflexão. Sem uma investigação sobre razões, resta apenas o moralismo, sobretudo o falso.
Mas, realmente inquieto, suponho que quando se diz que a universidade é um espaço para teoria e prática, necessariamente, não era exatamente isso que se tinha em mente.

Erika Morhy disse...

Caro colega Yúdice, por isso em especial peço opiniões: será que estou sendo falsa moralista? Sim, porque, afinal, temos filtros que nem sempre estão claros para nós e nos moldam o olhar irremediavelmente. Como tenho poucas informações, inclusive as que saíram hoje - a nota da faculdade, que reafirma a importância da atividade, reconhecendo que extrapolou os limites físicos do espaço previsto na agenda; e a manifestação do ministro de Educação, que repudiou a atividade; e a do reitor da UBA, que pedirá explicações à faculdade - continuo na mesmíssima. Sem entender o valor agregado nesta programação posporno, como definiram.
Obrigada pela contribuição.
Abraço fortão,
erika

Marise Rocha Morbach disse...

Oi querida, só vi agora o seu texto, fico muita honrada que você goste de saber da minha opinião. Sobre toda essa maluquice que ai está? Não sei bem o que dizer, de um lado sinto o fortíssimo desejo de expiação sobre jovens, adolescentes e negros. Por outro vejo o PSDB e o DEM comandando, ao lado de Cunha, este momento em que grande parte deseja que a maioridade seja aprovada, inclusive pessoas que militam na Imprensa e que estão enrustidas. O que aconteceu ai na UBA me parece ser da exata dimensão dos equívocos que tomam conta do ambiente acadêmico, mistura de estações, montanhas de reacionarismo misturados com um academicismo velho e moribundo; parece que estamos em um momento de retrocessos vestidos de "inovações" com a perda do lugar da autoridade e da legitimidade: tudo muito difícil e cercado de radicalismos inúteis quando a temática é sexo e política. Beijos e obrigada pela confiança!

Erika Morhy disse...

Sim, Marise, gosto muitíssimo do seu olhar. Obrigada por me emprestar.
Pois é, esse desandar da carruagem me deixa boquiaberta. Desperdício de oportunidades. Ah, esse darwinismo às avessas...