sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Encontros e desencontros

Difícil explicar essas coisas pros não iniciados. 

Eles jamais acreditariam que o Mississipi se junta ao Caeté pra formar Ajuruteua, Picanço, Mboiasukanga, ... Jamais.

Como então compreender que nós, moleques de Benquerença, nos encontrávamos com Tom Sawyer no rio do Cereja, no Curro, rio da Serra, D. Henriqueta, Aprijo, Pedro Pretinho, ... todos fugidos de alguém: ele da Tia Polly e nós dos castigos da Profa. Maricota, que tinha todo apoio dos nossos pais.

Eu, particularmente, me dava muito bem com um amigo do Tom, que ele chamava de Huck e eu de Fino, porque só quando o tempo me fez adulto eu entendi que o nome dele era Huckleberry Finn; complicado demais pra quem só tinha amigo Bené, Zé, Caíca, Sabá, Parú, Caga-Osso, e o máximo de esquisitice era o Ludisvalco, sei lá donde veio esse apelido.

Por sua vez Tom gostava muito do nosso Totonho. Coisa que só se explica pela atração que os marginais sentem um pelo outro. E, por favor, não confundam marginais, que vivem às margens, com criminosos. As margens têm lugar pra muitos e quando escasseiam, ou lotam, logo surge a terceira.

Pois é, vocês podem perguntar de onde nos conhecíamos; simples meus caros watsons, do Tesouro da Juventude. Era dali que partíamos em expedições com Mark Twain, Verne, Dickens, Hugo, Cervantes, Lobato, etc...pelos igarapés, furos, praias, praças, velas e vielas de Benquerença. 

Quando a lua, que iluminava os esconderijos, dava aviso que estava chegando, era hora de engavetar os sonhos até que o dia seguinte nos permitisse novo passeio pela imaginação. 

Não quero parecer saudosista e muito menos um cabôco lamentoso, mas tenho uma forte impressão que o Mississipi e o Caeté andam um tanto desencontrados dos moleques de hoje.


Corisco.

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