sábado, 8 de julho de 2006

Don't cry for me Argentina


Apple MacStore


Museu Evita

Conforme previsto, volta o frio aos ares portenhos. Saímos do hotel com 14 graus e 3 camadas de roupas. O suficiente para o momento.
Fomos então à Av. Santa Fé novamente, desta feita para cumprir um objetivo específico: visitar a loja da Apple em Buenos Aires. Parece uma coisa meio estranha mas, acreditem. As lojas da Apple são um show em todo o mundo. Um espetáculo de "design" a exemplo de seus produtos de alta tecnologia (e preços também). A de BUE não poderia fugir a regra. E não o faz. Quase em uma esquina de um bairro movimentado da região central, instalada em um prédio antigo de perfil parisiense, a Apple Macstore é simplesmente indescritível por dentro. Toda transparente. Das paredes até o telhado. Após cerca de meia hora circulando por lá, não pude resistir. Saí com uma prosaica sacolinha de papel carregando um novo acessório para meu iPod. O marketing da Apple é assim no mundo todo. Quando você vê os consumidores saindo de suas lojas com aquelas sacolinhas, imagina que ali dentro vendem-se produtos comuns de suprema simplicidade. E sente vontade de sair de lá também com uma, com a logomarca da
maçã. Só que dentro daquela prosaica sacolinha pode haver um produto de alta tecnologia de cerca de 5000 dólares, na "pior" das hipóteses. É o que eu chamaria de "amaciar a facada".
Após almoçar umas trutas com creme de ervas, fomos render nossas homenagens a grande dama argentina. Bem ali perto, no elegante bairro de Palermo, está o Museu Evita. Uma bela casa onde ela exerceu seu trabalho social que tanto encantou os argentinos. Uma "casa de trânsito", traduzida à grosso modo, onde ela recebia os "descamisados" e atendia as suas necessidades. Logo na entrada, sua máscara mortuária em metal brilhante e solenemente iluminada, fazia ver toda sua beleza. Morreu aos 33 anos vitimada por um câncer em pleno exercício do poder, fato que comoveu os argentinos e a transformaram em mais um de seus inúmeros mitos. A tentativa da ditadura militar em esconder seu corpo enterrando-a com outro nome em Milão, na Itália, só contribuiu para aumentar-lhe a eternidade. E lá, vivemos um momento de profunda emoção, ao ouvir e assistir seu último discurso às multidões, antes de sua morte. Um momento forte, profundo, onde com voz embargada, roga para que Deus lhe dê saúde para
continuar suas conquistas sociais. Dentro contexto populista vigente naquela época, de culto à personalidade, Evita conseguiu se sobressair e fazer algo mais. Defendeu árduamente o nova constituição argentina, o voto feminino, as reformas trabalhistas e brilhou pela enorme capacidade de mobilizar as massas com discursos memoráveis, sempre de tom emocional, com a verdadeira demonstração do poder da palavra.
Além do mais, era linda, de origem humilde, vestia-se como uma deusa, foi atriz, usava sapatos adquiridos em Paris e casou-se com o General Juan Domingo Peron. Qual o povo que poderia resistir a tantos encantos?
Deixamos as análises políticas de contexto para outro momento e curtimos Evita e sua aura de Deusa, fincada em nossa memória para sempre.
Para encerrar o nosso dia precocemente, além do frio, veio a chuva. E chuva mesmo, com raios, trovões, metrô lotado e toda uma série de desconfortos urbanos se abateram sobre nós. Foi quando então, percebemos: Buenos Aires começa a despedir-se de nós.
Iniciamos então um outro tom em nossos escritos a partir deste "post". O tom melancólico característico das despedidas. Voltamos só na segunda mas o pé já está se movendo em direção à Belém. Amanhã, a meteorologia promete um dia de sol e frio, típico do inverno que ainda não vimos por completo em BUE. A tempestade que neste exato momento se abate sobre a cidade, constrói o descrédito na previsão do tempo. Mas se não pudermos nos despedir de BUE com o devido respeito e elegância, que seus aromas, música, vinhos e a aura de Evita o façam em nossa memória para sempre.
"Don't cry for me, Argentina!"

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