O grão da escrita*

Se você ainda não leu algo como " as águas da mulher desceram em sangue", ou a sonoridade de "a água lava e revela a marca de um viço ", ou a marcante homenagem em " ou homem que lê as águas já escreveu sobre isso. A própria eutanásia da maré sobre os Campos de Cachoeira", por exemplo...
Se você procura um escritor que sabe desfiar temas sociais sem panfletarismo ou pieguice, arrancando poesia do lixo (literalmente), como em "Uma certa carapiará"; ou a poesia de mais alto quilate numa declaração de amor a Belém : "Alto-mar segues. / Rio me entranho. A cidade me tem. /Belém, essa Veneza proibida. / Aqui, a foz.Nossas marcas, marés subterrâneas./ Das águas eu vim, rio que sou em ti." (Pré-amar), certamente procura por Daniel da Rocha Leite.
Daniel é a grata revelação da literatura produzida no Pará, nestes últimos cinco anos. Com pleno domínio do seu ofício, circula com propriedade e responsabilidade pela poesia e a prosa, neste "oceano da linguagem para desaguar no mar da página", o que já lhe valeu diversos prêmios, nas duas categorias, tanto locais quanto nacionais, como o recente primeiro lugar no Prêmio SESC de poesia Carlos Drummond de Andrade, do DF.
Tem dois livros publicados, premiados pelo IAP (Águas Imaginárias - 2004) e pela SECULT/SEDUC (Casa de farinha e outros mundos - 2007).
Amanhã, dia 12, Daniel lançará seu mais recente trabalho: Invisibilidades, também prêmio IAP 2007 na categoria contos. Será na sede daquele Instituto, às 19 horas.
Numa terra de muito tucupi e tacacá, Daniel da Rocha Leite prova saber que "não se morre nos braços das palavras / morre-se distante delas".

* o título é uma homenagem ao escritor e crítico literário Acyr Castro, que tem um livro com esse nome.