domingo, 2 de maio de 2010

A Fotografia da Alma, Sem Truques


























Foi lançado pelo Instituto Moreira Salles (IMS) o fundamental Fotografias de Maureen Bisilliat. Diz ela sobre sua arte na orelha da sobrecapa: O meu negócio é a alma, mas ela, sábia, nem sempre e quase nunca se deixa aprisionar.
Maureen antes de ser fotógrafa foi dedicada à pintura. Embora a vivência em dois campos da representação pictórica tenham ao final fortalecido a técnica fotográfica, por certo é sua transbordante sensibilidade poética que lhe permite corporificar nos cromos a translucência de momentos tão especialíssimos das almas - dela e do fotografado -, elevando-os à categoria de arte.

Além de integrar a Coleção Pirelli (MASP), o trabalho de Maureen Bisilliat está somado ao acervo do IMS e vocês podem apreciá-lo aqui.

9 comentários:

Scylla Lage Neto disse...

Super dica, Itajaí.
Obrigado.

Rz disse...

Olá!
Lembra daquele álbum incrível da Maureen B. sobre os índios do Xingu? Memorável!
O IMS também lançou em livro o catálogo resumido da exposição do seu acervo Marcel Gautherot.
Estou a-pai-xo-na-da (e por demais ciumenta!) por esse livro! O prefácio de Milton Hatoum e Samuel Titan Jr. recupera com o devido assombro e fina inteligência, o olhar de um fotógrafo que faz, com a Maureen B., uma bela e sincera parceria quando se trata de nos retratar.
Abraço cordial, Rz

Itajaí disse...

Rz,
O álbum Xingú foi publicado in fólio. No livro Fotografias é contada a história dele, do quanto foi difícil imprimi-lo face as limitações da técnica gráfica para responder as exigências de cor, luz e sombra dos originais fotográficos.
Mas o estupendo resultado fez a alegria dos amantes da fotografia de ontem e hoje, e também dos bibliófilos pois se trata de obra hoje esgotada e como tal, cara nos sebos. É de fato obra memorável para a fotografia brasileira e mundial.
Concordo: Dividimos também a mesma paixão pelo livro do Marcel Gautherot (Norte), onde a terra em que nasci, na qual estão minhas referências emocionais, é magistralmente fotografada.
Por esses dois livros e outras iniciativas o Instituto Moreira Salles está fazendo um trabalho de grande importância para a cultura brasileira.
Abs.

Andrea Casali disse...

O IMS é um show! Adoro aquele lugar... a estrutura do Instituto, a arquitetura da casa, as exposições, os filmes q rolam naquele cinema super aconchegante, o café... Vc despertou meu interesse em dar um rolé de novo pelo alto da Gávea. O problema é que se trata de um passeio arriscado. Ocorrem muitos episódios de violência urbana...no local, hoje, é a rocinha-gavea. De qq forma, acessei o site pelo link, e achei muito interessante!
Parabéns pela postagem,
Um abraço,
Andrea

Itajaí disse...

Andrea,
É show mesmo. Mas se for ao IMS tenha cuidado, porque sem dúvida é área de risco.
Abs.

Rz disse...

Olá Itajaí,
Infelizmente não vi a exposição do M. Gautherot no IMS! Fiquei com uma vontade de ir ver a da Maureen B.!
Tenho o álbum Xingú, que eu mesma comprei na época de seu lançamento com o dinheiro da minha mesadinha! Mas para minha tristeza, ele agora está incompleto! Perdi algumas "planches" durante as minhas sucessivas mudanças.
Quando recebi de presente o livro do IMS sobre o Gautherot "devorei" as imagens e sai da experiência com "mais fome" ainda! Elas tinham algo que eu não conseguia exprimir com palavras! Algo que não sinto, por exemplo, ao ver as imagens de Pierre Verger sobre nossa Belém do Grande Norte.
Foi aí que o magnífico texto da dupla Hatoum-Titan veio para iluminar tudo!
Nesse prefácio, os dois sensíveis autores demonstram o quanto o olhar e a técnica de Gautherot foram capazes de se adaptar à realidade local e, assim, revela-la de maneira surpreendente!
Eu já havia percebido parte dessa intencionalidade do Gautherot em uma bela exposição do fotógrafo franco-brasileiro Patrick Pardini, retratando as árvores de Belém (http://www.culturapara.art.br/fotografia/patrickpardini/index.htm).
Nossa natureza ainda "prega peça" nos mais tarimbados artistas e creio que somente os índios locais possuam o pleno domínio do olhar sobre ela para traduzi-la resumindo-a de maneira tão essencial!
E aqui vai um lamento: é impressionante como não temos o "olhar armado" para essa vertente de nossa expressão "artística" local, entre outras coisas, por não termos amplo acesso aos "originais" de objetos decorados pelos índios. Fiquei extremamente chocada em saber que o Museu Goeldi possui uma coleção considerável dessas peças que bem poderiam estar à mostra e, assim, contribuir para a educação de nosso olhar para com o que temos de mais genuíno!
É triste pensar que peças provenientes dos padrões artísticos/decorativos dos povos indígenas amazônidas já foram vistas por um público internacional (por ocasião dos festejos dos 500 anos da chegada dos portugueses no Brasil, por exemplo) e que aqui a gente só fique com a reprodução "bastarda" desses mesmos padrões. Penso no horror que é a maioria dos objetos classificados como "cerâmica marajoara", essa mesma que é feita para "turista ver"!
À suivre...
Rz

Itajaí disse...

Rz,
O meu Xingu está inteirinho da Silva, e prometi que irei apreciá-lo esta semana. Aqui em Brasília não tive notícias de que essas exposições tenham vindo até aqui. Quando trazem elas acontecem ou no Espaço Cultural Banco do Brasil, ou no da CEF. Brasília, apesar de bela, infelizmente é uma capital com poucos museus de arte dignos de nota. Não sei porque o Guggenheim não aproveitou toda a arquitetura e o urbanismo avant la lettre de nossa cincoentenária capital.
Suas considerações sobre a questão do olhar me fez recordar a afirmação de um filósofo - não lembro quem, agora - que disse que olhamos o objeto como ele nos vê. Acho que ele quis se referir ao estranhamento e a comunicabilidade entre culturas. Essa incapacidade eu percebo no Gautherot, mas eu a percebo bem menor nos trabalhos de Maurreen B e nos de Verger. Percebo na obra desses artístas uma vontade de entranhar-se com o outro, de chegar e estar com ele no espaço onde a preocupação etnológica ou antropológica dilui-se e apenas restam dois seres humanos. Acho que exemplifica muito bem essa minha avaliação a fotografia da despedida do Villas-Boas do Parque Nacional do Xingú. O que é aquilo? Quantas fotografias há ali? Aquela mão do índio espalmada, o rosto do indigenista visivelmente emocionado na janela do avião, o reflexo da mão espalmada na fuselagem do avião, distorcida, como fosse um fade out: a saudade.
E por falar em Villas-Boas... nome plural no registro de nascimento, mais plural na prática porque fala de uma família de gigantes que o Brasil anda, como sempre, esquecido.
Abs.

Rz disse...

Olá Itajaí!
Pois justamente, eu não vejo no olhar do Pierre Verger o que eu somente percebi (e fiquei estarrecida!) nas reproduções das fotos do Gautherot!
Gosto muito do Verger. O que ele fez pela história dos descendentes de africanos no Brasil foi capital para os novos rumos que nossa africanidade vem tomando.
Mas o olhar dele muitas vezes resvala quando tenta se aproximar de nós amazônidas. Talvez isso se deva ao seu passado "africano", complexamente vivido nos estertores do império que a França tinha na África. Mas era um ser muito especial (tive a chance de conhece-lo pessoalmente!).
Que sortudo você é em ter seu álbum Xingú completo! Você saberia onde eu posso encontra-lo para comprar. Fui na Estante Virtual e "necas de pitibiriba"...
Abs cordial, Rz

Itajaí disse...

Antes eu passei na Estante pra ver se te ajudava. De fato, necas!
Você conheceu pessoalmente Verger? Ah, como eu invejo ter tido essa oportunidade...
Mas uma questão a ser apreciada na comparação Gautherot x Verger é que talvez o primeiro tenha feito um registro mais amplo de nossa região. De qualquer modo arrisco dizer, ainda que sem qualquer base cronológica concreta, que a fotografia de Verger sobre o Norte (apenas aquelas imagens do Ver-o-Peso, ou existirão outras sobre a vida do Norte?), se acaso precederam as registradas por MG, terminaram fundamentando uma espécie de modelo estético do registro fotográfico do lugar até certo momento.
Entretanto, sem dúvida Gautherot foi além, e nesse sentido tem afinidades mais próximas com MB.
Aliás, as imagens do Ver-o-Peso registradas por MG e PV não existem mais na realidade. Há muito as canoas do Ver-o-Peso não comparecem mais a feira com suas velas enfurnadas. Hoje quase todas estão motorizadas. Ao menos mantêm a misteriosa poesia dos nomes que carregam em suas proas.