domingo, 14 de novembro de 2010

Fellini 4 1/4 X 2



Conversando há pouco dias com o nosso editor-chefe Charlie Barretto sobre a postagem Limite, de Raul Reis, acabei por desenterrar da memória um curioso episódio cinematográfico ocorrido no final da década de 70, aqui em Belém.
Naquela altura, a única maneira de ter acesso aos clássicos do cinema e a filmes de arte era seguindo o Cine-clube de Pedro Veriano, Luzia Álvares e Alexandrino Moreira, em exibições feitas no Grêmio Literário Português, Faculdade de Odontologia e Cine Catalina, entre outros locais.
E assim tive oportunidade de conhecer Bunuel, Kurusawa, Bergman, Fassbinder, Herzog, Fellini e tantos outros cineastas que me abriram os olhos para o mundo fantástico do cinema.
E numa certa noite chuvosa, na finada Faculdade de Odontologia da Praça Batista Campos, iríamos ver o mitológico Fellini 8 1/2 pela primeira vez. Poucos haviam, até então. tido essa rara oportunidade.
A platéia mergulhou então num filme denso, de difícil compreensão. Aliás, eu e meus jovens amigos nos entre-olhávamos como que sinalizando a nossa plena ignorância e incapacidade para assistir e entender um filme de Fellini.
De repente, após cerca de 1 hora de filme, fomos surpreendidos com... os letreiros finais!
Pedro Veriano então levantou e, usando poucas palavras, explicou que os rolos haviam sido trocados e que a primeira parte iniciaria naquele instante e que seria exibida novamente a segunda parte. Meio que sem jeito, disse que já tinha visto o filme mas que não havia percebido a troca.
Bem, após o término do primeiro rolo, eu e a galera (salvo engano estavam comigo Sérgio Henriques, Luiz Maurício Costa e João Cláudio Arroyo) saímos correndo para pegar o último Tamoios.
Não precisávamos mais rever a segunda parte, pois a lição estava bem absorvida: 8 1/2 deveria continuar enigmático.
Para nós e para todos.
Para sempre.

Nenhum comentário: