quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sofrimento na ditadura

Digam o que disserem, eu definitivamente não acredito nas reações absolutamente histéricas que o povo norte-coreano está exibindo, nas ruas, pela morte do ditador Kim Jong-il. E não sou apenas eu, evidentemente, já que a grande imprensa tem destacado essas reações absurdas e ridículas com um perceptível tom de desconfiança.
Sabemos que todo regime totalitário tenta se respaldar em uma violenta propaganda ideológica. Não me surpreenderia se boa parte do povo norte-coreano estivesse sofrendo de verdade essa perda. Mas daí a assomarem as ruas, perfilados como se fossem pelotões militares, voltados todos para uma mesma direção, gritando como cães do inferno, vai uma longa distância, que a baixíssima inteligência dos staffs de ditadores não seria capaz de perceber. Embora não seja dado a teorias conspiratórias, cofio minha barba pensando se Jong-il não deixou instruções expressas sobre o comportamento do povo após sua morte, a ser assegurado pelas forças públicas, à bala se preciso, como forma de pavimentar o sucesso de seu filho à frente do país.
Tantos grandes líderes já morreram e não houve reação semelhante. Não me refiro aos bons homens, apenas. Mesmo quando crápulas mundiais morrem, seus seguidores reagem com violência, atentados, terrorismo. Mas são atitudes mais ou menos isoladas, erráticas, próprias de pessoas em confusão emocional. Nunca antes vimos um marcha-soldado de condolências.
Poucas coisas conseguem ser tão ridículas quanto uma ditadura. Até o sofrimento é melhor nas democracias.

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