sábado, 21 de janeiro de 2012

Kodak: R.I.P

Mais uma notícia chocante para o mundo. O mesmo mundo, que tenta acompanhar os avanços tecnológicos, que surgem em velocidade cada vez mais estonteante, choca-se com o desaparecimento súbito dos avanços de outrora.
Ontem, 20 de janeiro de 2012, a Eastman Kodak jogou a toalha. Isso mesmo! Acabou. Foi-se. Virou suco. Morreu. Em suma, declarou oficialmente falência. Seu website ainda está lá, tadinho. Mas ela se foi.
Segundo informa o Correio do Estado, a empresa desaparece 131 anos após ter revolucionado a fotografia
De fato, como informa a Wikipedia, sediada em Rochester, NY, a empresa foi fundada em 1889 por George Eastman. E dominou o mercado de filmes fotográficos durante quase todo o século 20. À ponto de em 1976, obter o incrível market share de 90% do mercado de películas nos EUA.
Inacreditável, não? Um sucesso estrondoso. Chega a ser indecente! 
Mas justamente aí reside o detalhe que, talvez, tenha sido determinante do que acontece agora. Um sucesso enorme. Quase um monopólio.
Mas, empresas de todo o mundo, estejam atentas!
O grande e estrondoso sucesso, associado ao comodismo, aos lucros exponenciais e a um certo engessamento de visão, podem levar a dinossaurização do empreendimento e, por consequência, ao inevitável fracasso.
Ser bem sucedido, fabricar/desenvolver bons produtos e até obter lucro, certamente é muito bom. Justíssimo. Mas montar neste sucesso, ignorar a inovação, sentar na arrogância e muitas vezes, até entremear-se no poder público para manter-se na liderança, pode não ser uma boa idéia. Menos ainda, se em meio a concorrência ou surgimento de uma nova tecnologia, subestimar e tomar as decisões erradas.

Um pouco antes, outra empresa que também desenvolveu e fabricou uma inovação de espanto e sucesso, também teve vida curta. Tão curta, que seus produtos sequer chegariam às grandes massas mundiais, como a Kodak um dia conseguiu.
Em 2008, a Polaroid, depois de espantar o mundo com seu filme de revelação quase que instantânea, também amargou o mesmo destino.
Entre outros graves problemas gerenciais ela pontualmente subestimaria o crescente mercado das câmeras digitais. Deste modo, subitamente, o príncipe virou sapo. Seu caro, pesado e desajeitado cartucho de tecnologia patenteada (gerava indecentes 10 imagens de qualidade muito discutível), não valia mais nem um centavo de dólar.  Foi então comprada por outra empresa, que em 2010 prometia reposicionar a marca no mercado de câmeras digitais e analógicas (??????).
Visitando seu website, observamos que a Polaroid parece debater-se com uma tal de Android Camera, entre outros produtos. Ao menos, parecem ser produtos minimamente sintonizados com as tecnologias da atualidade. Mas pessoalmente, tenho lá minhas dúvidas sobre o acerto de suas iniciativas.

Concluindo, ontem a Kodak se foi oficialmente. Vaporizou-se. Mas não sem luta. Talvez, não exatamente a luta adequada. Mas a empresa bem que tentou.

Logo na aurora das câmeras digitais, ela inventava um método de revelação digital, que batizou de Photo CD. Você levava seu cartão de memória, colocava numa máquina, que simplesmente lia suas imagens e gravava um CD. Desta maneira, com uma mídia gravada, você poderia mostrar suas imagens aos amigos e parentes. 
Certo? 
Errado! Não foi isso que ela criou. 
Ao invés de facilitar as coisas para os clientes, a empresa embutia no CD um padrão de apresentações proprietário!!! Um software, (obviamente patenteado e fornecido exclusivamente pela própria Kodak), era quase indispensável para a apresentação de seu slideshow nas telas de TV e computadores dos amigos. O quase foi proposital. Com o mínimo conhecimento, o usuário conseguia fazer seu computador "enxergar" onde estavam as imagens originais. Mas para seu avô, sua avó, isso seria um grande desafio.
Que tal?
Somente mais adiante, acossada pela vertiginosa queda do lucro fácil das películas fotográficas, a empresa de Eastman partiu para a fabricação de suas próprias câmeras digitais. Mas aí, já era tarde demais. Ela não mais conseguia concorrer com as Cybershots, Lumix, Powershots, Coolpix, Finepix (e até Tecpix, perdoem pelo sarcasmo explícito) do mercado. Ele já estava dominado por outras empresas, que vendiam câmeras digitais por preços progressivamente mais acessíveis. A maioria, tradicionais fabricantes de equipamento fotográfico. (Mas nem todas. A Sony e Panasonic, por exemplo, com tradição em outros tipos de produtos eletrônicos, chegaram a sair na frente das demais, especialmente no mercado não profissional).

Enfim, o grande elefante, cedeu ao enorme peso e caiu ao solo. Uma lição a ser aprendida. Um exemplo a ser analisado com detalhes. E mais um case para as empresas que hoje estão na crista da onda. 
Cochilar, é mortal!

Enquanto você chora copiosamente com a notícia, que tal dar uma voltinha ao passado? Sugerido pelo nosso parceiro de blog Paulo Santos via Twitter, no website da Time Techland, você poderá ver vídeos históricos como este.


Feito em 1958, o vídeo é o retrato de uma empresa de sucesso. Mas não se contente só com ele. O Time Techland reúne os 10 vídeos comerciais mais memoráveis da Kodak. Nem perca mais seu tempo e corra até lá. É muito interessante.

2 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

Carlos Barreto, havia lido sobre a Kodak há poucos dias.O nível de incerteza é muito alto com o desenvolvimento das tecnologias digitais, sem dúvida. Agora, veja lá o que está vindo por aí em termos de controle sobre o mercado: leis draconianas sobre a internet.Abs.

Carlos Barretto  disse...

Bem lembrado, Marise Morbach. (Rssss)
ELES, os mesmíssimos de sempre, tem MEDO de tudo isso. MEDOOOO! E nos quatro cantos do mundo, começam a querer impor controles. Para tanto, alegam os mais estranhos e risíveis argumentos. Dizem querer proteger nossas crianças da pornografia, reprimir atos terroristas, chegando até a alegar até que as leis de seus países não contemplam alguns crimes da grande rede.
Não sou especialista em leis. Mas lendo alguns artigos publicados aqui e ali, ouvi opiniões de advogados e criminalistas informando justamente o contrário. A maioria dos crimes ditos digitais, está sim contemplada de alguma maneira nas leis vigentes. Muito embora, algumas alterações, certamente devam ser feitas, não apenas para atualizá-las para alguns detalhes dos crimes digitais. Mas certamente, a demanda maior de atualização destas leis, deve continuar a ser para os crimes comuns, bem longe dos virtuais. Os de colarinho branco então, nem vou citar.
A chamada "Lei Azeredo" por exemplo, é o representante local da tal de SOFA/PIPA. E já há algum tempo ameaça a internet BR. E nem por isso, vi tanto alarde quanto para seu equivalente americano.
Há algumas explicações para isso, certamente fora do contexto deste comentário.
Mas serve para nos manter atentos igualmente as iniciativas perigosas dos MESMOS daqui.
Rssss