sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O poço límpido do tempo

Da feita que passares e venceres o Nazaré do Fugido,
quando os rumos se descambam por um trecho trilho d'areias ama­relas,
por adonde as carroças escapam de uma face cuma que de lua,
sulcando a manhã e a tarde com a solidão do esquecimento,
e quando vires os anuns chorando nos ramos ralos o ta­manho imenso de suas caudas negras
e quando sonhares de perder o mundo na beira escassa de um riacho raso de águas embarreadas,
longos tempos esquecido nas margens incertas do caminho,
e cruzares os passantes,
atirados pelos rebordos e ri­banceras,
em suas quantas tarefas ou no ócio daquelas tardes e noites e manhãs,
quando ouvires longe e desprendido o sorfejo da mãe que soluça pela filha,
quando sentires erguidas no ar as pesa­das copas das mangueiras debruçadas por em riba de tua cabeça,
em volta o casario de barro,
as construções sombrias refletindo a luz do sol intenso,
e dentro as faces úmidas e ancestrais e as peles tesas daquela gente
 - Neste instante terás chegado à beira do poço límpido do tempo.

Walter Freytas em: Kararaô, 2011 (CEJUP) 

Um comentário:

Marcão. disse...

Já tinha comentado contigo por emeio, mas vale a pena insistir: LINDA!