quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Lúcio Flávio Pinto

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Já com o diagnóstico de câncer terminal, Juvêncio de Arruda postou no Quinta Emenda uma nota  que começava assim: Lúcio Flávio Pinto tem razão. Isto foi em sete de julho de 2009. Juvêncio de Arruda morre em 13/07/2009. O editor do 5ª Emenda havia travado seu derradeiro combate. Pois é, durante o tempo de existência do 5ª Emenda, discutíamos, Juvêncio e eu,  sobre a torpeza com a qual era tratado o trabalho jornalístico de Lúcio Flávio Pinto, em Belém. Por aqui, todo e qualquer gesto do jornalista  para se defender do poderio dos Maioranas, e dos grileiros e juízes corruptos, ou reacionários, era tratado como inveja, dor de cotovelo, e ausência de razão. Seria Lúcio Flávio Pinto um louco? Seriam "os votos de pobreza" de Lúcio Flávio Pinto, um sintoma de demência? Seria a luta de Lúcio Flávio Pinto contra os imbecis, o sintoma maior de sua demência? Ouvi de gente intelectualizada, coisas impressionantes sobre as atitudes de Lúcio Flávio Pinto. Ouvi de pessoas atingidas por sua caneta implacável, coisas terríveis e tolas. Por que Lúcio Flávio Pinto não foi morar nos EUA? Lá ele viveria bem! Lá a Imprensa é livre! Lá ele seria respeitado e viveria com mais folga......e por aí vai. Na feudal Belém, coragem e lucidez são artigos escassos. As bravatas são muitas; a coragem? Rarefeita. Penso que este componente do caráter de Lúcio Flávio Pinto incomoda muita gente;e  causa uma certa repulsa naqueles acostumados a lamber botas; e a não dar limites em suas convicções de que ficar rico é o grande barato desta vida; seja por que meios forem. Lúcio Flávio Pinto é apenas um homem comum diante de uma máquina de moer aos moldes kafkanianos. Mas, parece que a sua condição de homem comum é o que lhe impulsiona. Eu o admiro; e muito. Tenho nele um porto e uma salvaguarda das informações que julgo democráticas e cidadãs. Ouvi, uma certa vez, de eminente autoridade petista, que "nós respeitamos o Lúcio Flávio Pinto pelo tempo e pela coragem com que ele leva o Jornal Pessoal; mas ele não está sempre com a razão!". Desliguei o telefone e pensei: "quem pode estar sempre com a razão?" Daí deduzi que a tal razão de que falava o eminente petista, nada mais era do que o fim das convicções daquele sujeito. E que diante do pragmatismo político que rege a orquestra paraense, ele havia decidido que a nossa trilha sonora seria a de sempre: Uma marcha fúnebre na qual dizemos adeus aos preceitos de cidadania e democratização. Lúcio Flávio trouxe, nesta última edição,  uma matéria para lá de instigante sobre o modo petista de gestão. Sob o título de  A nova safra de bilionários: um produto da gestão do PT, ele revela os caminhos que são adotados na "ascensão súbita e exponencial desses ricaços,..." Gostaria de poder lê-la ao eminente petista; mas não será possível.....De qualquer forma, e a cada dia que passa, entendo mais da comovente decisão de Lúcio Flávio Pinto em resistir contra a burrice, os desmandos, e a violência, que grassam neste Pará. Ele é um ser kafkaniano:  a única maneira que ele encontrou para continuar vivo foi denunciar os horrores cometidos pelas elites brutais que aqui existem.  

6 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

Jornal Pessoal; nº 530; Fevereiro de 2013; 1ª Quinzena; ANO XXVI.

Pedro do Fusca disse...

Marise, que saudade dos rabiscos do Juca! Não tenho conhecimento que o Lucio publicou alguma coisa contra eu e voce, isto é sinal que não fazemos liberalidades nem barbalhidades. Espero que o Lucio tenha ainda o reconhecimento de todos ainda em vida. Um forte abraço.

Edyr Augusto Proença disse...

Todo apoio ao Lúcio

Carlos Barretto  disse...

Post excelente!

Lafayette Nunes disse...

Lembro da postagem. Lembro que era importante ela ter sido feita. Lembro da minha esperança.

Marise Rocha Morbach disse...

Marise Morbach

Obrigado, Marise e demais amigos. Este espaço democrático me permite relembrar os tempos de universitário em São Paulo. Lá na Sociologia e Política éramos de vez em quando chamados para enfrentar a "direita" em debates memoráveis no campus da USP. Havia "direitistas" de excelente formação. Contra eles não se podia apenas usar slogans e clichês cunhados sob a bênção metafísica do progresso, do "progressismo". Era preciso conhecimento, aquela "sustância" do caboco. A "esquerda" tinha excelentes militantes, cuja militância só permitia leituras apressadas, sem aprofundamento. Além disso, suas leituras eram sectárias, tendentes ao dogma. Jornalista desde a tenra idade, me viciei em ser escravo dos fatos e da verdade. Daí que só dizia que fulano era "direitista" se pudesse mostrar em que aspectos seu pensamento ou sua prática o caracterizavam como tal. Prova da verdade é a demonstração, uma construção com a argamassa de fatos e lógica. Por isso, éramos chamados para enfrentar essa "direita" ilustrada, produto de gerações de elites bem alimentadas e bem vividas. Tudo isto para dizer que não existe a verdade absoluta, A verdade. Às vezes acerto, às vezes erro. Mas estou em praça pública, à disposição para o teste da demonstração.A coisa é bem simples: é só crescer e aparecer.Ir pra praça e dialogar ou duelar. Sempre visando o bom combate. A Amazônia oferece a rara oportunidade de bons combates. Pena que a praça esteja vazia e os bares, lotados. Beijo. Lúcio Flávio Pinto