quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O que dirá o mundo?



Gostei do vídeoclip do Otto, com a faixa “O que dirá o mundo”, do seu novo álbum. Fotografia bonita; imagem-metáfora ousada, quando o próprio Otto protagoniza a dureza e a beleza de ser um cavalo: animal ora de luxo, ora de exploração servil.

A letra e o vídeo, em si, cabem muito bem na velha-atual conjuntura em que vivemos. Quantas vezes eu mesma repeti: eu quero uma casa no campo? Um monte. Haja Elis Regina nas minhas veias! Mas quantas vezes me arrepiei de raiva ao me deparar com a situação de campesinos, trabalhadores rurais assassinados a mando de fazendeiros usurpadores de futuro? Outro monte de vezes. O caso “Welbert” é um dos mais recentes - pelo menos dos que se têm notícia. Inaceitável! Que venham comissões externas, mas que venha um mundo mais justo, em que as comissões nem sejam mais necessárias! Sim, porque elas hoje cumprem ainda, entre outras, a função a de expor nacionalmente casos que poderiam ficar "escondidos na calada da noite” e, conseqüentemente, também alimentassem um ciclo virulento de crimes contra os direitos humanos.

Como circulou no facebook, sob possível autoria de Bertold Brecht: que diabos ter de repetir o óbvio! Algo assim, parecido a isso.

Não me sinto capaz de me adaptar a esse cenário de forma tranquila. Assim, gosto de me apoiar na arte para tentar caminhar algumas quadras a mais nessa trajetória que parece infinitamente dolorosa.

Então ofereço aos leitores do Flanar o vídeo e a letra da música de Otto.

Que façam bom proveito!

O Que Dirá o Mundo
Otto

O que dirá o mundo sobre as cidades?
Eu até estarei, reconheço a cidade
Em cada rua uma dor
Em cada dor, desabafo
Em cada corpo que eu acho eu trafego comigo
Eu lhe peço um abrigo
Eu divido contigo minha angústia e o meu pão
Eu divido contigo minha angústia e o meu pão
Buraco negro, elevadores, ela não sabe
Não há mais vagas
Olha as raízes dos postes de luz
E a concretagem das novas colunas
Becos e praças são feitos para as desgraças
O amor e o medo são pontas de facas
Mas não espere, não, pegue na contramão
E vai juntando as vidas perdidas
Mas não demore, não, pegue na contramão
E toque as filhas perdidas, perdidas
As filhas, as filhas
Onde começa, ela não sabe
O sol da laje, lembro do mar
Levantamento das quadras armadas
Quero você para sempre esta noite
Becos e praças são feitos para as desgraças
O amor e o medo são pontas de facas

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