sexta-feira, 1 de março de 2013

Lavagem cerebral


Quando eu era bem criança, a minha meca era a banca de revistas do Largo de Santa Luzia.
Grande, aliás, enorme (assim me parecia), cheia de quadrinhos reluzentes e revistas de capas bem coloridas, a banca levava toda a minha verba mensal e ainda me provocava desejos atrozes de comprar mais e mais revistas.
Desenvolvi então um "sonho acordado" que envolvia uma espécie de "dinheiro imaginário" que eu sempre carregava no bolso direito da minha bermuda, na verdade uma bilhete supostamente assinado pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici, ordenando que o dono da banca me fornecesse todas as revistas que eu desejasse.
Havia um outro bilhete, que ficava guardado no meu bolso esquerdo, no qual o presidente ordenava gentilmente que a Padaria Circular, na esquina da Tv. Dom Pedro com Tv. Jerônimo Pimentel, me desse todos os pastéis de queijo que eu pedisse.
Não tenho como recordar disso tudo sem rir sozinho.
E é lógico que jamais tive coragem de usar o "dinheiro" do General Médici.
Não consigo me lembrar até quando esse delírio persistiu, mas é bem claro na minha memória embaralhada sobre aqueles anos tão difíceis da nossa história (e eu nem suspeitava que havia uma ditadura em curso!) que não chegou a atingir o governo Geisel, pois dele jamais tive ordem alguma nos bolsos. 
Hoje me indago como pude ter os meus infantis neurônios tão bem lavados nas aulas de Educação Moral e Cívica e sequer desconfiar?!...
Como?!

10 comentários:

Anônimo disse...

Scylla, então você é fã de pasteis de queijo de padaria, desses folhados, assim como eu? Cara, não sabes como sofro aqui, em Brasília simplesmente não se acha isso!

Quanto às aulas de Moral e Cívica, eram uma baboseira moralista mesmo, e são perfeitamente dispensáveis. Mas está fazendo falta pra essa nova geração o OSPB - Organização Social e Política do Brasil. É impressionante como essa garotada na faixa dos 12-15 anos não tem a menor ideia do que é o Parlamento, como funciona, quais as suas atribuições, ignorância essa estendida aos demais poderes da Nação!

Sem conhecer a Nação, como exercer a cidadania?

Edyr Augusto Proença disse...

Que história linda de infância! Muito legal. Devias explora-la em um conto

Marise Rocha Morbach disse...

Um barato! Me lembro quando eu estava na graduação de ciências sociais e ainda tínhamos de fazer uma disciplina com estas questões de moral e cívica; isso era em 1984. Imagino a sua cabeça de garoto, rsrs. Adorei!

Scylla Lage Neto disse...

Alan, eu adoro pastel de queijo, de camarão, daqueles bem "ruins" da padaria, mas infelizmente não posso devorá-los com frequência, por conta de uma dita dieta.
Um abraço.

Scylla Lage Neto disse...

Obrigado, Edyr.
Vou considerar a sua ideia de um conto.
Abraços.

Scylla Lage Neto disse...

Marise, na medicina tínhamos as famosas disciplinas EPB (Estudo de Problemas Brasileiros)1 e 2, ambas inesquecíveis e torturantes.
Um grande abraço.

Carlos Barretto  disse...

Scylla
Eu agitei bandeirinhas do Brasil, em frente ao NPI 1 grau, durante a passagem do General por Belém!

Rssss

Marise Rocha Morbach disse...

Barreto, eu tenho um vídeo do Médici em Belém, vou procurar você por lá rsrsrs. E, Scylla, era justamente esta disciplina primeira aí, rsrs

Scylla Lage Neto disse...

Charlie, posso imaginar a cena!!!
Rss.

Scylla Lage Neto disse...

Marise, tenho até medo de ver este vídeo, pois eu era da turma do Barretto na Escolinha da UFPa e posso ter aparecido nele!
Rss.