segunda-feira, 27 de julho de 2009

Governabilidade e o ridículo

O professor de Comunicação da UFRJ Muniz Sodré escreveu um livrinho que li na faculdade chamado "A Comunicação do Grotesco". A grosso modo, Muniz sustentava a tese que a estética pretende prender o homem pelas coisas boas, bonitas, sublimes, etéreas. No entanto, a grosseria, a baixaria, o tosco, o sujo também dão sua contribuição para a estética, tendo sua parcela de participação no imaginário humano. A isso se convencionou chamar de "mau gosto" e está visível todos os dias, na TV aberta, na mídia brega, na música de baixa qualidade.

Agora o governo federal dá uma nova contribuição à comunicação do grotesco e o presidente Lula, em particular, ao insistir em defender a permanência de José Sarney à frente do Senado, sob as mais estapafúrdias justificativas.

Lula reforça a tese de Muniz Sodré: realmente, o ridículo tem peso.

5 comentários:

Anônimo disse...

Permita-me discordar Francisco. Não acredito que a postura do presidente, neste caso, tenha qualquer relação com estética, isso é proselitismo.

Trata-se de pragmatismo perverso; Lula encontra-se subjugado pelas alianças e concessões realizadas no decorrer de quase 8 anos de governo.

Isso é o que convencionou-se chamar de "governabilidade".

Itajaí disse...

Lula pode até querer o contrário como fiduciário de um pacto político (esse é o ônus que lhe cabe), desfiado pelas diatribes de um condestável do PMDB, que não é um zé ninguém na história política do Brasil.
Estabelecido esse acerto ótico, devemos reconhecer que, do princípio ao fim nesse imbróglio, cabe ao Congresso Nacional e ao Judiciário, com base nas graves denúncias contra o ex-presidente e atual senador Sarney, dar o tom da música que o senador deve dançar nas comissões de ética e nos tribunais; ou não, se lhe derem o selo de qualidade na pizza que ele servirá no velho baile de todos os anos, de todos os mandatos, no Congresso, nas Assembléias e nas Câmara Municipais, com uma ou outra variação que não nos escapa de enjoar a halitose que emanando de todas elas empestia os ares nacionais.
Mas sem essa aranha de linchamento moral que o autor de Marimbondos de Fogo agora de súbito sofre, patrocinada não poucas vezes por gente e veículos de comunicação que não resistiriam a um olhar mais sério sobre o que fingem ser. Virtudes ou reputações à parte, como sói acontecer nesses casos, tal prospecção apenas os mostraria desnudos e impúdicos ao som e a luz dos respectivos passados, em silenciosa conivência com aqueles males indeléveis de nossa história política.

Francisco Rocha Junior disse...

Você não entendeu o post, das 18:56hs. Eu não disse que a postura de Lula tem a ver com estética, e sim com comunicação.
É um apelo à leitura dos sinais, às vezes explícitos, muito mais vezes implícitos, que nossos políticos emitem.
Obrigado pela leitura e comentário.

Francisco Rocha Junior disse...

Itajaí,
o grande erro de Lula, a meu ver, foi justamente repetir o modo de fazer política que criticava. A tal "governabilidade", como lembra o anônimo das 18:56hs, não pode ser fiduciária de todas as falcatruas que são sempre expostas. Tenho certeza - e como eleitor de Lula do 2o turno de 1989 até a eleição de 2002, posso dizê-lo em nome próprio - que quem o elegeu também queria uma mudança nestes rumos, e ele não só não o fez, como ainda teve a desfaçatez de justificar muitas destas atitudes.
Também penso estar vencido o discurso do "sujo" que não pode falar do "mal lavado". Se é a Folha de São Paulo, o Estadão, o Globo ou a Veja que fazem as denúncias, afiançados por Arthur Virgílio, Rodrigo Maia ou outra figura nada impoluta do PSDB, do DEM ou satélites, não importa: todos sabemos quem é José Sarney e ele merece, e muito, estar sendo desnudado da forma como vem acontecendo.
Finalmente, se a responsabilidade por julgar o presidente do Senado é do Legislativo e do Judiciário, o que faz o presidente da República, chefe do Executivo, advogando sua causa?
Abs.

Itajaí disse...

Não se pode ter dois pesos e duas medidas na análise desse grave problema. Ao contrário de tua afirmativa, sou da opinião de que o discurso é legítimo. Se quizermos ser éticos como pretendemos, como diz o ditado, à esposa de César não basta ser honesta, sobretudo é necessário parecer honesta.
Daí porque nunca será desnecessário lembrar, considerando os jornais e as figuras impolutas do PMDB e DEM antes citadas na tua réplica, que quem pactua, quem compactua, quem repactua com manhas e artimanhas, não pode depois apontar trave no olho de ninguém, pois é ou foi parte e, enquanto tal, usufruiu.
Quanto ao Lula, sinto, ele não pode ter outra atitude em relação ao Congresso Nacional, pois essa casa, e nem precisamos buscar os fundamentos para tal, tem institucionalidade própria e, inclusive, orgão de controle externo chamado TCU para vigiar os atos das excelências ali domiciliadas. Imagina se um presidente em sã consciência vai imobilizar a agenda do executivo para moralizar o Congresso Nacional como o que temos. Não fará mais nada e ainda sairá derrotado apupado pelas gargalhadas dos cínicos.
Portanto, Lula está certo em conduzir esse assunto na perspectiva daquilo que menos pode causar problemas à conclusão do governo e, claro, à candidatura Roussef.
O brasileiro com o nível de informação que hoje temos já está bem criado para não eleger e reeleger maus políticos como fosse a democracia uma banalidade, ou um joguinho rastaquera de Remo x São Raimundo.
Abs.