Este é o primeiro Dia dos Pais que passo com meus filhos após a separação. E por tudo isso, um dia muito especial. Talvez bem mais especial que todos os outros dias, levando em conta o corolário de sentimentos que nos afligem, pais e mães, envolvidos na dissolução daquilo que um dia já se chamou casamento. Dissolução esta, que nem sempre é simples, clara e tranquila. Apesar de nossos esforços, costumamos "pisar na bola" em alguns momentos, com nossas "adultices". Muito embora, e disso não tenho nenhuma dúvida, tenhamos o maior amor do mundo por eles. Nunca antes, nosso foco esteve tão voltado para eles, apoiando-os em todos os seus momentos, e principalmente, amando-os da maneira mais natural possível, que um pai e uma mãe poderiam fazê-lo.
Feitas estas considerações óbvias das angústias que nos consomem nestes processos nem sempre previstos e desejados, eis-me então no Dia dos Pais. Escolhi o Terra do Meio por achar que lá, além da boa comida e ótima recepção do queridíssimo André Nunes, poderia criar bons e agradáveis momentos com meus dois "coelhos", que é como os chamo desde a mais tenra idade.
Muito embora já estejam bem grandinhos para merecerem designação algo ridícula, aos olhos deles. Mas pai e mãe não funcionam assim mesmo? Minha mãe me tratava, até pouco tempo antes de partir deste mundo, com o termo carinhoso de "croquetinho de macaxeira". Hehe. Algo talvez desabonador ao convívio social no "mainstream", digamos. Mas era a verdade. E eu não reclamava, pelo simples fato de não ver nenhuma maldade nisso. Muito pelo contrário, era a maneira que minha mãe escolhia para me encher de carinho. Bem diferente quando me chamava pelo nome completo: Carlos Eduardo Barretto! Venha já aqui!
E lá fomos nós ao Terra do Meio, junto com o tio querido, dispostos a enfrentar uma trilha, um passeio de canoa e um bom papo. E assim fizemos a trilha, que mesmo sob protestos iniciais de meninos atolados em computadores e videogames, consegui despertar neles o gosto pela exploração de novos cenários, procurando mostrar o sentido de cada árvore, cada borboleta, cada inseto que íamos encontrando pelo caminho. Mostrando a natureza em seu estado mais intocado possível. Com o mínimo de intervenção humana, além da própria trilha.
Uma trilha pequena, com alguns obstáculos pontuais e alguns aclives e declives razoavelmente acentuados. Nada que não nos gerasse um pouco mais de animação para superar supostos desafios. Mas naquela hora, mesmo com roupas apropriadas para o empreendimento previamente combinado, nossos corpos e a própria floresta ao redor, suávamos desbragadamente. Estava chegando a hora de uma compensação, que providenciamos com o rápido retorno ao ponto de origem, saboreando então o extraordinário cardápio do Terra do Meio. Cervejinhas estupidamente geladas em baldes, junto com sucos naturais e refrigerantes para os filhos. Após este rápido descanso, resolvi então lhes propor um outro desafio. Algo que eles, certamente, nunca tiveram a oportunidade de fazer: remar uma simples canoa. Um casquinho.
Estimulado pelo menor deles, resolvemos então encarar o desafio. Como já tinha tido a experiência de conduzir esta prosaica, (mas não necessariamente simples) embarcação, criamos então a fantasia perfeita para o empreendimento. Eu o capitão daquela nau, e eles, os marujos. Nem preciso falar que eles agarraram aquela "causa" com alegria. E antecipo logo, que a nau, não desgovernou.
Inicialmente, para fins de treinamento, pegamos um bote de alumínio, algo mais pesado de conduzir do que o casquinho que estava ao lado. Iniciei-lhes nos princípios complexos de conduzir a embarcação, dando-lhe ao mesmo tempo tração e direção. Algo que segue as leis da física, mas que exige a experiência inicial para adquirir o "know how" com os remos, que jamais será esquecido. E assim, após cumprirmos um razoável percurso no lago maior, entreguei-lhes o "brevê" de condutores de canoa. Não sem antes pontuar que mais importante do que chegar, era importante aprender a partir.
De posse desta responsabilidade recém adquirida, dei-lhes a missão de conduzirem com seus próprios recursos, o pequeno casquinho que os estava aguardando no lago menor. Óbvio que eu já conhecia o lugar, sabia de sua pouca profundidade, além das habilidades que os dois já possuem em nadar. Não havia de fato nenhum motivo de preocupação, desde que eu mantivesse meu "radar" em operação, monitorando seus passos discretamente, entre uma cerveja e outra, em meio a um agradável papo com André Nunes e o "guarasuco" Val-André Mutran (que telvez nem tão surpreendentemente, encontrei por lá). Aproveitei e acabei por resolver um rápido probleminha no Macbook de Val-André. Bizarro, por ser em meio a estrada do Uriboca. Mas haveria de ter alguma diversão exclusiva minha, pois não?
E eles então - mesmo sob os protestos do mais velho, que logo percebeu que talvez o esforço maior seria o seu - abraçaram aquela missão. Afora alguns contratempos no direcionamento do casquinho (registrado na imagem acima), um pouco mais de espaço foi o suficiente para aprenderem os princípios elementares de conduzir uma canoa. Ao menos em águas tranquilas.
E logo, feito capitão e pequeno marinheiro, faziam com tranquilidade sua trajetória rumo ao porto seguro que os aguardava. Mas olhei-os bem de longe, com o "radar" ao máximo, guardando a distância respeitosa que estes momentos mágicos devem proporcionar.
Pintou sim, um pouco de orgulho. Mas com certeza, uma enorme felicidade. Vamos em frente, filhos queridos.
24 comentários:
O mais novo é a cara da mãe! Adorei o post.
Um abração!
Minha gripe não me permitiu maiores sofisticações no meu segundo dia dos pais. Terceiro, se contarmos a paternidade gestante, que eu intimamente não conto. Além do mais, com uma filha tão pequena - ou verdinha, como diziam os antigos -, devo me contentar com o beijo, o abraço, os parabéns e o presente comprado pela mãe, que a filha só viu mesmo na hora da entrega e não tinha a menor ideia do que era.
Pergunto-me como serão os próximos anos. Sem dúvida, quero fazê-la amar o pé na terra, o subir em árvores, o mergulhar nos rios, o conhecer os animais e todas essas práticas que, na minha infância, eram normalíssimas e hoje se tornam cada vez mais incomuns. Como tu mesmo lembraste, estamos na geração videogame. E eu de-tes-to videogame. A depender de mim, Júlia só descobrirá que essa desgraça existe quando chegar à faculdade!
Quero que ela enfrente bem até mesmos os eventuais dissabores, como quedas da bicicleta e sustos quando o nosso lazer se dá em meio natural. Tudo faz parte. Acima de tudo, quero que ela se torne adulta lembrando com carinho dessas aventuras, desses aprendizados e desses dias felizes.
Parabéns por ontem, Barretto e demais pais.
Os meninos são bonitos e muito educados.
O "guarasuco" manda um abraço aos dois, ao André Barretto, ao André Costa Nunes e a você, agradecendo a ajuda no MaC.
É sim, Telma!
Eu sabia que vc não ia resistir a este post, Yúdice. Tenho quase sempre certeza, que quando os escrevo, escrevo para pessoas como vc. Nas férias, o desafio que impus a eles foi andar de bicicleta. Mesmo com o mais velho tendo se embrenhado nos jardins implantados por minha mãe, e o menor machucando a perna na corrente da bicicleta, valeu a pena. E eles adoraram.
Abs
Hehe
Obrigado, Val "Guarasuco" André. Espero que vc tenha entendido a brincadeira.
Quanto ao Mac, uma última recomendação: não modifique a estruturação de pastas feita pelo próprio iTunes. Se o fizer, todos os programas baseados nele, terão dificuldades em funcionar. Foi o que aconteceu com seu Song Genie, que está funcionando apropriadamente.
Abs
Só um detalhe: esta história de ficar criando pastas no seu Mac, é um vício indelével da época Windows. SPW então!
Hehe
Meu Barretto.
Você será sempre um pai croquetinho de macaxeira...
Que todos os dias seus e de seus filhos sejam dias do pai e que todas suas terras sejam do meio, onde está a virtude. Algumas delas comestíveis e outras bebíveis. Outras com nome, sobrenome e CPF.
Seja feliz, agora e sempre.
Meu nobre, Alencar.
Diga-se, a cada dia mais e mais nobre.
Vc me deixou corado por aqui. Hehe. Mas uma vez mais, obrigado pelos seus gentis comentários.
Abs
Li e fiquei bem emocionado em ver que um lugar onde brinquei e vivi por todos meus 40 anos (o papai comprou o sítio em 1967), continua a proporcionar estas "coisas da gente"...
Valeu Barreto!
Compartilhei um pouco de sua velha emoção, Lafa. E de quebra, ainda levei pra casa 2 litros do licor de jambú.
Abs
Pô, este licor é pra se degustar com calma... e sempre acompanhado, heim!
Sem a menor dúvida. E já imaginei a companhia ideal.
O problema é que anestesia tudo.
Hehehe
Putz, nem imagino um licor que anestesia tudo... Tinha que ser invenção de André Nunes.
Mas acho que não deve ser legal...
É de jambu, querida. Lembra?
Faz parte.
Rssss
A Maria, quando esteve lá, adorou remar e pescar. No início, ficou nervosa. Mas depois, quando viu minhas enormes habilidades na navegação, relaxou e curtiu o passeio... Inventei mil histórias de mistério e de perigo, e ela já me pediu para repetir.
ELa só não gostou muito da trilha... sabe como é... menina e mato, e insetos, e bichos... não combinam.
É verdade, Fernando. Meninas são outra história. E eu como tenho 2 meninos, acabo por ter outra atitude com eles, sempre tentando fazê-los embarcar nestas e outras "naus" que sempre fizeram a minha cabeça. Ao que eles embarcam não sem exatamente algum protesto inercial. Mas aprendi neste tempo, algumas maneiras criativas de encantá-los.
Um desafio cotidiano.
Abs
Parabéns pelo dia e pelos rapazes. Como estão crescidos! Minha memória visual ainda era deles bem crianças.
Pois anotem aí, para nos certificarmos daqui a alguns anos: a Júlia há de gostar de trilhas, com todos os insetos e dificuldades! Quero educá-la como as crianças do meu tempo de infância e não as de hoje. Havemos de nos divertir muito na terra, na chuva e no meio dos bichos!
Não entendi o "lembra?". Passamos por alguma aventura com jambu?? Ai, jesus, minha memória está cada dia pior...
Não, querida. Nada de especial além do fato de o jambu possuir algum tipo de propriedade anestésica local, que podemos sentir quando tomamos o tacacá, por exemplo.
Bjs
Yúdice
Só não faça como o André Nunes "pai", que confessa já ter tido 13 malárias.
Rsssss
Amigo Carlos,
Acompanhei, de longe, tuas aventuras com teus filhos. O Terra do Meio foi imaginado exatamente para isso, quarenta anos atrás.
Ao te ver vi a mim mesmo. Andrezinho, Lafa, Pedro, Nando aprendendo a nadar, a remar, a pescar. Pulando de uma árvore que renitiu em ficar no meio do rio depois da cheia.
Havia um velho miritizeiro do qual pendia um cipó. Imagina o que eles aprontaram.
Depois, ao te ver, os vi, tal como tu, agora com meus netos. Vi Lais, Letícia, Leila, Nandito, Mateus, Mariana, Alexia e Bia.
A Bia tem a idade da filha do Yúdice, mas, assim como os pais e os primos, sabe que o Uriboca é um rio encantado. Todo mundo sabe, e acredita piamente que lá moram as entidades do fundo. O Caboco Jururé, a Iara, que nas noites de lua cheia aparece sentada no tronco com seus cabelos longos cobrindo os seios e espraiando-se no reflexo de prata.
Meus filhos e os filhos e filhas deles ouviram essas histórias, e mais, o assobio da matinta, o grasnar da rasga-mortalha, o curupira, a porca sem cabeça, o mapinguari.
Antes era um barracão tosco, chão batido, coberto de folhas de off-set de jornal e um mundo de redes. Sem luz elétrica ou água encanada. Mas tinha todo aquele pessoal da encantaria.
Fique emocionado com teu relato. O Uriboca está cumprindo com o prometido. Foi preservado para pessoas como tu, teus filhos, os filhos dos meus filhos, os netos dos meus companheiros de jornada.
Muito obrigado,
andré costa nunes
Amigo Carlos,
Acompanhei, de longe, tuas aventuras com teus filhos. O Terra do Meio foi imaginado exatamente para isso, quarenta anos atrás.
Ao te ver vi a mim mesmo. Andrezinho, Lafa, Pedro, Nando aprendendo a nadar, a remar, a pescar. Pulando de uma árvore que renitiu em ficar no meio do rio depois da cheia.
Havia um velho miritizeiro do qual pendia um cipó. Imagina o que eles aprontaram.
Depois, ao te ver, os vi, tal como tu, agora com meus netos. Vi Lais, Letícia, Leila, Nandito, Mateus, Mariana, Alexia e Bia.
A Bia tem a idade da filha do Yúdice, mas, assim como os pais e os primos, sabe que o Uriboca é um rio encantado. Todo mundo sabe, e acredita piamente que lá moram as entidades do fundo. O Caboco Jururé, a Iara, que nas noites de lua cheia aparece sentada no tronco com seus cabelos longos cobrindo os seios e espraiando-se no reflexo de prata.
Meus filhos e os filhos e filhas deles ouviram essas histórias, e mais, o assobio da matinta, o grasnar da rasga-mortalha, o curupira, a porca sem cabeça, o mapinguari.
Antes era um barracão tosco, chão batido, coberto de folhas de off-set de jornal e um mundo de redes. Sem luz elétrica ou água encanada. Mas tinha todo aquele pessoal da encantaria.
Fique emocionado com teu relato. O Uriboca está cumprindo com o prometido. Foi preservado para pessoas como tu, teus filhos, os filhos dos meus filhos, os netos dos meus companheiros de jornada.
Muito obrigado,
andré costa nunes
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