A relação entre doenças tipo Transtorno Bipolar e arte sempre me fascinou.
Considerando que os transtornos de humor (depressão e mania), em surtos, são experiências extremas para todas as pessoas por eles acometidas, assim como para as suas famílias e amigos, é de se presumir que estes episódios possam ter um papel importante na capacidade criativa de um grande artista.
Em contra-partida, se os estados francos de mania ou depressão são praticamente incompatíveis com pensamentos ou ações eficazes, eu imagino que uma certa "dose" de patologia num momento preciso da vida do artista seja o "toque de gênio" para o insight criativo.
A lista de "pacientes-artistas" (supostamente) acometidos por transtorno grave de humor é extensa, segundo o livro Touched With Fire (New York Free Press, 1991), da psiquiatra americana Kay Redfield Jamison, autoridade mundial nesta doença.
Dentre os escritores, destacam-se Andersen, Balzac, Mark Twain, Dickens, Emerson, Faulkner, Scott Fitzgerald, Hemingway, Hermann Hesse, Mary Shelley, Robert Louis Stevenson, Tolstoy, Edgar Allan Poe, Dylan Thomas, Walt Whitman, Baudelaire, William Blake, Lord Byron, Emily Dickinson, T. S. Eliot, Victor Hugo, Robert Lowell e Mayakovsky, entre dezenas de outros.
Na música, os casos mais famosos são os de Robert Schumann (vide Schumann e a Psicose, aqui no blog), Mussorgsky, Handel e Hector Berlioz, e nas artes plásticas também há nomes importantíssimos para a história da humanidade, tais como Michelangelo Buonarroti, Paul Gauguin, Van Gogh, Pollock e Edward Munch.
Muitos dos mencionados acima estiveram internados em instituições psiquiátricas, tentaram o suicídio ou mesmo tiveram êxito em cometê-lo.
A pergunta que insiste em assolar o meu pensamento é: se os artistas em questão tivessem sido adequadamente tratados, quantas obras-primas o mundo teria deixado de conhecer?
6 comentários:
É uma pergunta instigante Scylla, todos os citados produziram obras importantes e corajosas para o tempo em que aqui estiveram. Se a relação é tão marcante quanto apontas, fica a minha perplexidade diante disso.
Marise, você dificilmente poderá ter um colaborador melhor do que alguém com um quadro de hipomania (um estágio abaixo da mania verdadeira).
Será o primeiro a chegar ao trabalho, o último a sair, fará todas as tarefas e mais algumas com enorme e anormal energia e dedicação.
O resultado poderá ser ótimo, pelo menos por algum tempo, pois a patologia flutua e destrói o ritmo.
Aliás, muitas vezes o tratamento também estraga tudo.
Muito louco, né?
"Se os artistas em questão tivessem sido adequadamente tratados, quantas obras-primas o mundo teria deixado de conhecer?"
Estou muito de acordo com você, caro colega. Muito, sabe?!
Para o mundo essas obras de arte são valiosas e bem vindas, mas da vida dessas pessoas quem pode dizer se o sofrimento foi gratificante?
Vivi na pele essa angustia de ter um filho inteligente e desaparecer desta vida sem conseguir materializar seu potencial devido a doença (bipolaridade, esquizofrenia?) que a ciência dos homens ainda engatinha na sua compreensão.
É, Erika, as artes em geral flanam por porções obscuras de nossos cérebros e de nossas mentes.
Quem pode entender o controverso Homo sapiens sapiens?
Luiz, lamento pelo seu filho e por muitos que sofreram e sofrem sem que a luz do conhecimento médico possa mostrar um real caminho terapêutico.
Os casos mencionados ficaram na história, mas quantos anônimos com gigantesco potencial em vários ramos do conhecimento humano seguem por tortuosos caminhos de vida sem encontrar um porto seguro?
Acho que esta pergunta é ainda mais perturbadora do que a feita no post.
Abraços e obrigado pelo comentário pertinente.
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