quarta-feira, 24 de abril de 2013

Mariage pour tous


A França se torna o 14° país a adotar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E, garanto, meus caros, a vida seguirá seu curso normal, como aqui na Bélgica, o 2° país onde o casamento homoafetivo virou lei (2003) - o 1° foi a Holanda, em 2001.
Em dez anos, a sociedade belga não desapareceu, nenhum castigo divino caiu dos céus, a família vai bem, obrigado, e não existe nem sombra de uma "ditadura gay" -  mesmo desde  2011, ano em que  o país passou a ser comandado por um notório homossexual, o chefe do governo, o nosso primeiro-ministro, Elio Di Rupo.
E é incrível que a terra do Liberté, égalité, fraternité demorou tanto para avançar nessa questão fundamental para uma grande parcela de seus cidadãos. Não deixei de pensar em geniais franceses que amam e amaram o amor que não ousa (ousava) dizer seu nome: a tenista Amelie Mauresmo e sua esposa Sylvie Bourdon, o mestre Yves Saint-Laurent e o seu marido Pierre Bergé, e, claro, eles da fotografia acima, os nossos chouchous Paul Verlaine e Athur Rimbaud.
E para homenagear este avanço na terra do croissant, ouso publicar o clássico Soneto do Olho do Cu, dessa dupla do barulho no final do século XIX. Não que eu queira reduzir o amor entre iguais numa questão anatômica, mecânica, como algumas manifestações que vi no Facebook, onde os contrários ao casamento gay comparam pessoas a parafusos/porcas, plugs/tomadas para ilustrar que, na vida afetiva/sexual, num mundo onde a religião de uns devem ser a lei para todos,  apenas os contrários são complementares. 
Poesia como transgressão. Poesia como reflexo do ser humano. Poesia como expressão do Amor.

Segue mais abaixo uma livre tradução desse Soneto maldito feita pelo mestre dos mestres José Celso Martinez Correa e Marcelo Drumond,  para montagem do Oficina para a peça de Jean Genet, As Boas, em 1991 - tradução que foi musicada por José Miguel Winisk, que pode ser ouvida aqui no Youtube.


 Le Sonnet du Trou du Cul

(Paul Verlaine - Arthur Rimbaud)

Obscur et froncé comme un oeillet violet
Il respire, humblement tapi parmi la mousse
Humide encor d'amour qui suit la pente douce
Des fesses blanches jusqu'au bord de son ourlet.


Des filaments pareils à des larmes de lait
Ont pleuré, sous l'autan cruel qui les repousse,
À travers de petits caillots de marne rousse,
Pour s'en aller où la pente les appelait.


Ma bouche s'accoupla souvent à sa ventouse ;
Mon âme, du coït matériel jalouse,
En fit son larmier fauve et son nid de sanglots.


C'est l'olive pâmée, et la flûte caline ;
C'est le tube où descend la céleste praline :
Chanaan féminin dans les moiteurs éclos !


Soneto do Olho do Cu
(Verlaine- Rimbaud - tradução livre José Celso Martinez Corrêa e Marcelo Drumond)

Oculto , com pregas humilde , úmido ainda do amor cravo roxo ,
escondido respira no meio de mousse
que na bunda branca desce em doce debruce ,
em colo que rola na orla do arrocho ;

corrimentos escorrem , lágrimas de leite
por peidos cruéis expulsos , choram ,
pedrinhas de barro vermelhas molham , convulsam ,
escorregam na descida onde chamam ,'' Vem , deite ''

Sempre caí de boca e língua nessa ventosa ,
minha alma tri na foda material , invejosa ,
ela fez dele lacrimário rubro , ninho de soluço , sabre , brocha , tabu ;

mas é azeitona babada , flauta carinhosa ,
tubo onde desce a amêndoa oleosa ,
Canaã feminina na umidade abre , desabrocha , molha , olha , vê
oh cu !

2 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

Oh, Edvan, rsrs. "Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução!" Viva a liberdade sexual!Viva a tolerância política! Vivam, e deixem viver; bj.

Silvina disse...

"Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar"
As Sylvie's são tudo de bom!!
Rss.