quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Ruína

Mulher, 25, apaixonada por psicopata. Traída, apontou o cano do revólver para a nuca -dele-, mas acertou o próprio pulmão. Sobreviveu, mas restou-lhe os estilhaços da culpa. O itinerante, durante o transporte para o teatro cirúrgico sapecou-lhe o verbo: - Por que não atiraste nele?" Ela, simploriamente, respondeu: - "Eu ficaria encarcerada o resto da vida e perderia a confiança de todos os meus amigos. Então escolhi a própria morte". A escolha se transformou numa abertura de um palmo, no peito, para desencarcerar a dor da vitória sobre o destino. Restaram coágulos sobre a mesa e dois pares de luvas evertidas penduradas na aba da lixeira, deixando escorrer o sal rútilo-vinhoso e um certo cheiro de desconfiança do mundo. Tudo, agora, segue sob outra pele, em gotas de Rivotril-a-granel e em passos de Gardel.