terça-feira, 30 de maio de 2006

Morte da Princesa Diana discutida no CBMI 2006




No Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva realizado em Recife de 28 de abril a 2 de maio deste ano, uma palestra causou sensação e recorde de público.
Atendimento ao Politraumatizado: Controvérsias na morte da Princesa Diana.
Nela o conferencista Kenneth Mattox (Texas - USA), autoridade mundial no atendimento ao paciente politraumatizado, comentou sua pesquisa e análise detalhadas sobre o atendimento prestado a princesa no terrível acidente que a vitimou. Fruto de enorme polêmica na comunidade médica mundial, este atendimento chegou mesmo a ser questionado duramente em vários fóruns mundiais de discussão médica. Os médicos de todo o mundo, chegaram a afirmar que ela teria morrido por atendimento inadequado seja na fase hospitalar, bem como na pré-hospitalar realizada pelo SAMU de Paris.
Mattox contudo, em uma bem humorada palestra (como texano, Mattox apesar da seriedade e reconhecimento internacional, é um homem folclórico), concluiu que de fato tudo funcionou a contento em todas as fases deste atendimento, pondo fim a uma discussão que se extendeu por muitos anos.
Após ter acesso a todos os prontuários médicos, relatórios e entrevistas com todos os personagens envolvidos no atendimento de Diana, constatou que a morte era inevitável tal a brutalidade do impacto com o tórax da vítima.
Alguns detalhes contudo, são aterrorizantes:
1) Diana apresentou no decorrer do atendimento 4 paradas cardiorrespiratórias: uma no local do acidente, outra ao ser colocada dentro da ambulância do SAMU, outra na chegada ao hospital e outra durante o ato cirúrgico, que haveria de lhe ceifar a vida.
2) Apresentava no local do acidente uma condição muito grave chamada tórax instável (Flail Chest), condição que por fratura de muitas costelas, a caixa torácia normalmente rígida, fica mole e depressível, inviabilizando a respiração. Mas para manter-lhe a oxigenação, Diana foi entubada e ventilada mecanicamente ainda na via pública.
3) Também em decorrência do impacto, uma grande hemorragia interna (para dentro da caixa torácia), dificultava-lhe a respiração (condição que chamamos de hemotórax). Diana foi drenada logo na chegada ao hospital, ainda na emergência, momento inclusive que apresentou a terceira parada cardiorrespiratória.
4) O cirurgião do hospital parisiense que atendeu Diana, viu uma coisa que nunca tinha visto na vida: ao abrir-lhe o tórax, não encontrou o coração. Este, pela enorme força do impacto, havia sido desviado para o lado direito do tórax. Não queiram saber a angústia e o pânico que tal fato provoca no médico.
Em resumo, Diana teve o tórax praticamente explodido ou esmagado, trauma este praticamente incompatível com a vida, provocando a chamada morte instantânea na maioria dos casos. Cabendo aí inclusive, elogios a rapidez e prontidão do SAMU parisiense que conseguiu chegar a tempo de ainda encontrar a princesa com vida, e ainda prolongar-lhe a sobrevivência até a chegada ao hospital, que deu continuidade aos esforços, tentando o inimaginável diante do inevitável.
Os médicos de todo o Brasil, presentes ao CBMI, tiveram uma grande oportunidade de aprender sobre o caso.

8 comentários:

Manoel Corrêa Junior disse...

É Carlinhos foi uma tragédia, mas confesso que rezei muito pra que ela não morresse. Que os médicos conseguissem reanima-la, sei lá... acho vocês tão poderosos.

Carlos Barretto  disse...

E de fato somos, Jr. Focault que o diga. Mas como todo poder, existe para ser regulado e controlado pela sociedade. E também não é ilimitado. Havendo claros limites. Nosso poder na área médica é conhecer estes limites bem intimamente, trabalhando nas bordas destes limites, como é o caso de minha especialidade. E tudo isso é algo digno de um certo trabalho pessoal, estruturando o profissional a lidar com isso de alguma maneira. Todo médico deveria, pelo menos.
Abs

Anônimo disse...

Colisão frontal a mais de 160 km por hora contra concreto. Quando estive em Paris, há três anos, tive a oportunidade de conversar com quem fazia a regulação na central SAMU na ocasião do acidente. De fato era impossível sobreviver e a ocasião de minha visita todo o prontuário do atendimento fora revisto em busca de possíveis falhas em suas diferentes etapas.
A estrutura do SAMU francês é extraordinária em termos de segurança e seriedade no atendimento. Em caso de catástrofes, quando as linhas telefônicas se inviabilizam, por exemplo, toda a comunicação passa a ser feita por satélite interligando os SAMUS regionais com a coordenação nacional. Em caso de ataque nuclear também, mas aí entra em ação protocolo específico cujo conhecimento está restrito a três membros da central.

Carlos Barretto  disse...

Quando estive em Paris, tive oportunidade de assistir ao atendimento de uma parada cárdiorrespiratória pelo SAMU, do alto do prédio onde morei, em plena via pública. Fiquei impressionado, para não dizer, emocionado. As manobras de reanimação perduraram por longos 45 minutos. Ao longo deste tempo, a polícia chegou para ajudar e enquanto alguns policiais isolavam a área de atendimento, outros, fizeram uma fila, para fazer o revezamento na massagem cardíaca externa. Uma fila de uns 5 policiais, além dos 3, que faziam parte da equipe do próprio SAMU. Infelizmente, a senhora de meia idade, não sobreviveu a longa subida das famosas escadarias da Rue de Mont Cenis em Montmartre e deve ter sido vitimada por infarto agudo do miocárdio.
O que realmente impressionou foi a absoluta competencia no atendimento, e a participação de policiais. Uma orquestra que tocava uma música há muito ensaiada. Era a impressão que ficava.
Fantástico!

Anônimo disse...

A propósito, duas brincadeiras:
Não confunda Maddox com Mattox pois o primeiro lhe salva a vida e o segundo acaba com ela.
Maddox não é contra-indicado a saúde.
Abs.

Carlos Barretto  disse...

Entendi a brincadeira com o Maddox que vem a ser o cara do software livre. Mas o Kennet Mattox do Texas, está longe de acabar com a vida de alguém, anônimo. Na verdade, ele é uma das maiores autoridades mundiais em trauma. Gostaria de ter ao menos um semelhante para me atender em caso de acidente.
Abs

Anônimo disse...

A questão não se relaciona a má apreciação do Dr. Mattox, que para mim é um desconhecido.
A intenção original da brincadeira era: Não confunda Mattox com Radox pois o primeiro lhe salva a vida e o segundo acaba com ela.
Infelizmente o trocadilho com o inseticida saiu errado por ato falho e, claro, ficou prejudicado.

Carlos Barretto  disse...

Hehehehe, anônimo. Acabamos nos enrolando completamente. Por que eu também, na réplica, acabei por confundir o John Maddog, que é o defensor do software livre com o seu "Maddox".
Então fica "elas por elas".
Rs