segunda-feira, 5 de junho de 2006

Para sempre, Elisa IV

UM TRIBUTO A ELISA SÁ

Há pessoas que, na vida, são instituições. Por aquilo que constroem, na grandeza da doação e pelo amor à causa, tornam-se maiores que seus próprios limites. São indivíduos-coletivos, cuja obra ultrapassa o tempo biológico para se perpetuar na história. Por isso não morrem, ficam encantados – como diz Guimarães Rosa. Pelo trabalho e pelo exemplo legados, transformam-se em referência, símbolo, medida; alguns, em mito. Mas o que é o mito, senão uma inefável fabulação coletiva projetada para recriar continuamente no tempo, depurado das contingências do efêmero, o totem unificador de nossas aspirações e esperanças mais recônditas, encarnado na figura imorredoura do santo, do líder?

Elisa não se foi. Permanece. Está presente nas pessoas que, como ela – e por ela formadas –, continuam a sonhar e a acreditar na causa pública. Está transfigurada naqueles que sabem que para se erguer um país, uma nação, com toque republicano, na contracorrente das vantagens pessoais e das espertezas corporativas, o caminho é longo, árduo, mas possível. Renasce a cada dia em todos os que, certos de que não há espinhos sem rosas, continuam a cultivar o terreno árido do cotidiano, fertilizando-o como o suor e as lágrimas dos lutadores.

Elisa, marajoara, paraense, brasileira, está viva nas conquistas da saúde coletiva, na continuidade e expansão do SUS, nas colunas do Hospital Universitário João de Barros Barreto. Está no plano de crescimento e consolidação do HUJBB, sua paixão, por meio do qual planejava ampliar o atendimento em saúde dos mais necessitados. Elisa nunca se deixou desvanecer pelo obstáculo mais próximo e imediato, concentrada que estava em mirar o horizonte mais largo e longínquo da utopia. Por isso sempre o ultrapassava. Por isso o vencia. Por isso ela permanece entre nós e em nós, lembrando-nos, com a sua biografia, que o importante é acreditar e prosseguir.

Elisa é semente rara que morre para fazer nascer outras Elisas. Se possível, muitas Elisas. Múltiplas Elisas. Diferentes, diversas, nunca iguais, mas Elisas. Sim, porque o Pará precisa de Elisas. O Brasil precisa de Elisas. A Humanidade precisa de Elisas. Há falta de Elisas. Urgem homens-coletivos!



Alex Fiúza de Mello

Reitor da UFPA

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