segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
Morre Pinochet, o carniceiro.
Salvador Allende, ao centro, resistindo em La Moneda
11 de setembro de 1973. Uma data que se repetiria fatídica quase três décadas depois, por conta do enfrentamento do Islã com a principal potência econômico-militar do mundo, os Estados Unidos da América. Ocorre que estamos no centro de Santiago, na sede do governo chileno, e o presidente eleito, o médico Salvador Allende está entrincheirado com pouco menos que vinte homens fiéis a sua biografia e ao seu governo, resistindo contra um golpe militar que reunia contra si - ele não sabia - 90 mil homens. Tem nas mãos uma metralhadora presenteada por Fidel Castro, e sobre eles a aviação chilena, sublevada, despeja bombas.
Allende se recusa a capitular. Tudo indica que resiste com a esperança de que seu General de confiança garantirá a constituição e o seu mandato, somando-se a pequena resistência civil que era esfacelada nas ruas de Santiago e nas cidades do interior. O nome do homem é Augusto Pinochet Ugart, sujeito tido como moderado e legalista no processo de radicalização das elites chilenas contra o governo socialista de Allende.
Não houve socorro, o palácio do governo em chamas foi invadido e o presidente eleito encontrado morto, com a cabeça destroçada por uma rajada de metralhadora. Disseram que havia cometido o suicídio, embora nenhum dos sobreviventes testemunhe esse fato.
Seguiu-se então uma das maiores carnificinas já presenciadas na história das ditaduras latino-americanas, erguida não só pela usurpação do mandato presidencial, mas sobre a aniquilação física de seus oponentes, qualquer que fosse.
Pessoas presas no Estádio Nacional presenciaram e sofreram toda a sorte de brutalizações. Vitor Jara, considerado até hoje um dos mais importantes compositores populares chilenos, foi ali assassinado, sendo antes cortadas as suas mãos em vida.
No outro extremo, meganhas invandiam a Isla Negra e a casa de Pablo Neruda, Prêmio Nobel de Poesia da América Latina e , também, socialista e legalista. Sem encontrar quem buscavam destroem uma das mais importantes coleções de conchas marinhas do país e depredam todo o imóvel que tem importância para um dos principais tema da obra de Neruda: o mar.
Dias depois a viúva do presidente deposto, sob constrangimento, teve que enterrá-lo quase como indigente no cemitério da capital. Teve, porém, a coragem de gritar para as baionetas e coveiros presentes que ali se estava enterrando um homem de bem, o presidente eleito do Chile, Salvador Allende. E assim seguiu-se a brutalidade comandada por um único homem, exatamente aquele por quem tanto esperou Salvador Allende - o traidor da democracia chilena, o General Augusto Pinochet, supremo comandante entre os comandantes de uma das mais sangrentas ditaduras latino-americanas, só possível no contexto da Guerra Fria entre EUA e URSS e de movimentos congêneres no continente, dentre os quais o Brasil, que oferecera apoio técnico ao golpe.
Por 17 anos Pinochet fez fama de ser um escroto honesto até que a democracia foi restabelecida e vieram de vez a tona suas responsabilidades sobre assassinatos de opositores, no país e no exterior, com a novidade que, além de todo o sangue com que encharcara a história chilena, amealhara uma fortuna pessoal injustificável para o salário de general, ou de presidente usurpador.
Apesar dos 91 anos, Pinochet não viveu o suficiente para pagar por seus crimes hediondos, mas capitulou no dia de seu maior inimigo - 10 de dezembro de 2006 -, o dia em que se comemoram os direitos humanos. Que lhe sirva de epitáfio.
Postado por
Itajaí
às
01:00
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Temas:
História,
Política
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7 comentários:
Estranha e bela coincidencia.
Que a terra lhe seja leve.
Bom dia.
Oliver,
Retifica aí no post, colocaste Allende, onde deveria escrever Pinochet:"Por 17 anos Allende fez fama de ser um escroto honesto..."
Deve-se ler, para não esquecer as mazelas dos golpes militares...
Abraços,
Pedro
Realmente um lapso do Oliver que já foi corrigido.
Obrigado Pedro.
Abs
Escrevi umas seis linhas sobre isso agorinha, mas o seu post é primoroso. Parabéns.
Pedro e Barretto, obrigado, pela correção. O erro de digitação fica por conta de te-lo escrito às 1 da madrugada.
Obrigado, Yúdice, pela visita e leitura.
Esta foto é verdadeiramente impressionante. Uma maravilha de fotografia jornalística.
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