Na UFPA as tendências do movimento estudantil disputavam com grande energia os diretórios acadêmicos, orgãos fundamentais para a redemocratização universitária - DAM, DCE, CACO, CABIO, etc. Com a conquista deles chegaram as primeiras greves e vi o Professor Moussalem de Estudos de Problemas Brasileiros -2 esbravejar que doravante usava dois cintos, um para segurar as calças e outro pra botar pra correr os grevistas baderneiros, inclusive os que eram professores, referindo-se a gente como Raimundo Areas, Eluisa Areas, Rômulo Paes, Sérgio Carneiro, Mário Magrão, Fernando (Índio) Barros, Roseli, Amaury Braga Dantas, Itajaí de Albuquerque, Isa Paula, Edmundo Gallo, Joseney dos Santos, Carlos Barretto, Paulo Weill, Tião Vianna entre outros com que me alongaria ainda mais, se os citasse.
Se por um lado as esquerdas hegemonizavam na Arquitetura, Biologia, na Comunicação, na História, na Odontologia e na Medicina, a direita acuada reagia no sócio-econômico da UFPA sob a liderança do Bacalhau, que assim nomeio (e peço desculpas por isso) por ter escapado da memória seu nome real.
É desse tempo, enfim, a promulgação da Constituição Federal de 88, que o Sr. Diretas, Ulysses Guimarães, tonitrou como "o documento da liberdade, da dignidade, da democracia, da justiça social do Brasil" - o velho sabia emocionar, quando discursava.
Os anos 80 são de muito mais coisas em termos políticos. Dos chamados "fiscais do Sarney", por exemplo. Um bando de senhores e senhoras da classe média que assumindo o discurso dos planos de estabilização econômica radicalizavam nas portas dos comércios. É desse tempo por exemplo o Presidente da República sair a caça de bois que os fazendeiros estariam sonegando da mesa dos brasileiros e brasileiras.
É tempo... Do Movimento da Meia Passagem! Tendo a frente o Luiz Araújo, depois secretário de educação do governo Edmilson, conduzindo os secundaristas pelas ruas com a palavra de ordem: Meia passagem! Meia passagem!
E foi a época em que vários de nós depois de tanta confusão nos graduamos em médicos no período regulamentar de seis anos, casamos e iniciamos a pós-graduação e a vida profissional.
O encerramento dessa década, contudo, foi mal. Em 89, na primeira eleição direta para presidente, pós-ditadura militar, o Brasil elegeu Fernando Collor de Mello e a chamada República das Alagoas levou o povo brasileiro ladeira abaixo nas desigualdades sociais e na sempre frágil moralidade brasileira com os negócios públicos. A história, mais uma vez protestou, por coisas e loisas, que não daria saltos às ordens de nossos corações de estudantes.
Uma busca, porém, ainda nos move com a memória desses anos 80, que pelo impacto em nossas vidas representa a admiração de uma volta ao mundo. Tal qual o muiraquitã do Paulo Chaves, a tanguinha do gabeira está desaparecida, aguardando que algum arqueólogo interessado nas relíquias dos anos 80 a encontre e destine quem sabe a alguma vitrine do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
2 comentários:
Comentarista deste blog que se identifica como Marcelo Medeiros, deixou às 10:31 de ontem um comentário sobre este post. Por razões que ainda não pude entender, apesar de ter autorizado a publicação, o Blogger o fez sumir.
Copio então aqui o texto original que ficou em meu programa de e-mail.
"Gostei, mas gostei mesmo desse comentário: realista, verdadeiro e objetivo!
Vivi o movimento estudantil na era pré e pós-64.
Participei de reuniões que antecederam o golpe e, triste, vejo hoje que o Brasil padece dos mesmos problemas daquela época.
Lembram do "milagre brasileiro" de 73, em pleno governo Médici?
Não parece com o nosso hoje?
Já passo dos 60 e sinto que o Brasil e, particularmente o nosso Pará, estão caminhando para um precipicio.
Com licença do Comendador Mário Sobral, valha-nos quem? "
Só faltou falar do CAEGEO... a turma das Geociências (tanto alunos, quanto professores) teve um participação muito destacada nessa fase universitária.
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