No domingo passado, foi finalmente identificado e preso André Barbosa, o "Monstro da CEASA", que confessou ser o autor do assassínio de três adolescentes, cujos corpos foram encontrados nas matas que circundam a Central de Abastecimento.
Não quero falar dos crimes em si. Isto, a imprensa sensacionalista já faz. O que quero suscitar é o vínculo pouco sutil, à luz das estatísticas, da associação entre violência e miséria.
Segundo dados da UNICEF, o fundo para a infância da Organização das Nações Unidas, o índice de pobreza da população brasileira é de 27,6%. Entre as crianças, porém, este percentual aumenta para 44%. Além disso, o Ministério da Saúde concluiu, em estudos recentes, que agressões e acidentes domésticos são a maior causa de morte de crianças na primeira infância, isto é, entre 0 e 6 anos, e que 96% dos casos de violência física e 64% dos casos de abuso sexual contra estas mesmas crianças são cometidos por familiares e pessoas próximas.
O caso do assassino das matas da CEASA é exemplar: segundo ele próprio e os parentes das vítimas, que o reconheceram, André Barbosa era próximo das famílias dos menores. Aproveitava esta proximidade para, em confiança, levá-los até o local onde cometia os crimes. Os menores, sem ocupação mais freqüente, sócio-educativa e construtiva que não fosse passar as tardes em lan-houses do bairro do Guamá, onde moravam, eram alvos fáceis de seu algoz.
Além destes, um dado mais amplo joga luz sobre o cenário em que crimes como os cometidos por André são construídos. Julgo imprescindível ter em mente que a população mundial, nos últimos 40 anos, dobrou; já a riqueza mundial aumentou 28 vezes. A existência da pobreza (e seus males associados) em meio a tanta pujança econômica do planeta é uma distorção que, mesmo disfarçada por alguns, não consegue vencer os dados.
É neste cenário que grassa a possibilidade da violência e do crime. Não nasce somente de um click, de um estalo que dá no cerébro de um infeliz, em determinado momento de sua vida, e que o impulsiona a uma vida de desrespeito à vida alheia.
Evidentemente, André terá que pagar, com a mais dura das penas possíveis previstas no Código Penal, pelos crimes cometidos. Porém, o perigo não se esgota com sua prisão. Outros milhares de Andrés, como inúmeros outros tipos de potenciais criminosos, estão prontos para assim se descobrir, ou ainda por nascer.
4 comentários:
Perfeito o comentário, que demostra conhecimento de como a violência sexual contra jovens acontece e termina impune por uma série de razões nas sociedades.
Mas o que importa é a solução dos crimes brutais, em resumo motivada por um erro banal do suspeito: ter perdido o celular, que materialmente permitiu rastreamento e a prisão, o que naquela altura pela precariedade das provas não era possível.
De fato inexiste crime perfeito, existem sim investigações incompetentes e, obviamente, o concurso da sorte ou da Providência, como queiram.
ocorre, caro, que pessoas de nível superior e com boas condições financeiras tambem são capazes de crimes atrozes como este. O instinto do homem para crueldade com seus semelhantes vai muito além do que simplificar este tipo de conduta ou vincula-la à falta condições sócio-educativas.
Realmente, Oliver, o que importa é que o cara está preso.
Como ocorre nos EUA, caro anônimo das 15:11.
Mas as estatísticas demonstram uma ligação evidente entre miséria e violência, e isto é inegável. Daí que o combate à insegurança não passa somente pelo patrulhamento ostensivo das ruas ou pelo trabalho de investigação policial. O Poder Público tem que evitar o crime, e não somente solucioná-lo quando acontece.
Perdoe-me, mas creditar tais crimes tão somente à crueldade humana é que me parece uma visão simplista do assunto. E pior: sem solução.
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