Sinceramente, não dá para entender, muito menos para engolir a postura do Tribunal Superior Eleitoral, em relação à "lista suja" dos futuros candidatos do vindouro pleito, que respondam a processos criminais. Além disso, obviamente, a condução dada ao tema pela imprensa não é das melhores, a começar pela própria expressão "lista suja", que já se fixou. Sujo é o candidato, não a lista, cuja existência só traria benefícios ao eleitor.
Se você vai contratar uma empregada, o que faz? Pede referências de empregadores anteriores.
Se precisa de alguma especialidade médica, pergunta a amigos se conhecem algum profissional de sua confiança.
Se vai viajar, procura informações sobre bons hotéis e restaurantes.
Se vai comprar um carro de montadora ou concessionária com a qual nunca lidou, vai atrás de informações sobre o produto, preços, revenda, assistência técnica, etc.
Se vai comprar pela internet, certifica-se quanto à credibilidade pública da empresa, prazos de entrega, assistência pós-compra, etc.
Em tudo que fazemos - se temos juízo, é claro -, procuramos informações que nos precavenham contra riscos, prejuízos ou aborrecimentos. Se isso vale para comprar um CD pela internet, como não valeria para questões muito mais drásticas, como a escolha de um representante parlamentar ou de um governante? Para isso, a lista esclarecedora seria bastante útil.
A divulgação do perfil processual dos candidatos não viola o princípio constitucional do estado de inocência - conquista da civilização que, infelizmente, caído em mãos erradas, obriga-nos a conviver com políticos com todos os cursos, em matéria de crime, pilantragem e sociopatia. Porque a lista, por si só, não indica que o indivíduo é culpado, mas que ele responde a um processo, só e simplesmente. Pode não significar nada, assim como pode significar muita coisa. A informação - a simples informação - pode ajudar a tomada de decisão do eleitor, a partir de critérios absolutamente subjetivos. Quem decide não votar em alguém não está, somente por isso, destruindo a candidatura de ninguém.
O velho apotegma quem não deve, não teme está mais vivo do que nunca. Salvo raras exceções, só gente suja tem medo da divulgação de seu currículo. Pense bem: se você for procurar um emprego ou prestar certos concursos públicos, terá que se sujeitar a uma investigação de sua vida. Precisará esclarecer porque deixou o emprego anterior, p. ex. É o ônus de convencer os outros. Então por que omitir que o candidato tem pendências judiciais, se ele também precisa nos convencer?
Pensando bem, todos sabemos por quê.
3 comentários:
Yúdice,
É de indignar mesmo este absurdo da tal "lista suja" ser praticamente considerada como uma afronta à democracia e, pior ainda, como se tivesse que ser escondida no confessionário da politicagem brasileira.
Muito oportuna a tua definição por "lista esclarecedora", que é, de fato, o que ela é. Se este país tivesse seriedade em tratar a sua vida política, certamente, ela estaria colocada em todos os jornais do país, como matéria de capa e de folha inteira, com o devido destaque que mereceria ter, e deveria ser passada ainda em horário nobre, na TV, para que todos, de todas as classes e de todos os lugares do país pudessem ver as coisas como elas são, afinal, porque nós somos obrigados a ver horário político onde tudo são flores?
Mas, enfim, isso de fato ainda não faz parte da nossa realidade, se não for melhor dizer que faz parte sim, da nossa utopia, como tu mesmo já dissete, "pensando bem, todos nós sabemos por quê".
Cristina Amorim
Arrasou, professor!
Abs
Mas nós estamos a muitos anos-luz da seriedade, Cristina. A despeito dessa constatação, não sei se por ingenuidade, ainda acredito na força do convencimento boca a boca. Por isso gosto dos blogs. Registramos nossas impressões sobre um assunto, meia dúzia de pessoas lêem, algumas comentam e por aí vai. Uma hora, conseguimos alguma coisa. Grato por sua atenção.
Caro Juvêncio, elogio vindo de um estudioso da Ciência Política muito me felicita.
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