Benedicto Wilfredo Monteiro exerceu todas as faces de um homem público. Foi membro do Ministério Público. No Judiciário, foi pretor e juiz de direito. Foi administrador público, o primeiro Procurador Geral do Estado do Pará e o organizador da Defensoria Pública estadual. Foi secretário de Estado. Foi ativista político: cassado pelo regime militar de 1964 – e literalmente caçado nas matas de Alenquer, quando, após preso, foi trazido amarrado a Belém, como hediondo prêmio da luta da ditadura contra a subversão – passou mais de 10 anos impedido de sequer exercer sua profissão, de advogado. Foi ecologista avant la lettre, antes do atual sucesso das empreitadas globais das ONGs ambientalistas. Foi político partidário: deputado estadual antes de 1964, foi, após ter sido beneficiado pela Lei de Anistia, eleito por duas vezes deputado federal – a segunda delas, como deputado constituinte da Carta de 1988.
Benedicto foi advogado. Jus-agrarista dos bons, obteve sucesso na militância em uma área que ainda hoje é árida e pobre de bons advogados. Escreveu uma obra a respeito do tema, “Direito Agrário e Processo Fundiário”, salvo engano editado pela CEJUP.
Benedicto, em meio a toda esta vida atuante e incansável, foi escritor. Teve importância na literatura nacional e alguns de seus livros, inclusive, foram traduzidos e publicados fora do país.
Um homem público com tamanha dimensão merece o respeito que lhe é devotado. O mais bacana da vida de Benedicto é que passou por toda esta exposição pública de sua figura sem qualquer arranhão. Viveu intensamente, produziu enormemente, dedicou-se de corpo e alma a projetos vários e, com tamanha vontade de fazer, lutou bravamente contra um câncer que não conseguiu vencer sua força de vontade: mesmo doente, Benedicto nunca parou de escrever, de surpreender, de usufruir as delícias de uma vida rica e cheia de histórias.
A última vez que falei com Benedicto foi em fevereiro deste ano. Homenageado como enredo do Quem São Eles, foi pessoalmente a um dos últimos ensaios da escola de samba, mesmo que suas condições físicas não o recomendassem. Lá, foi recebido com as honras devidas a quem teve uma história tão rica: ao ser anunciada sua chegada, foi cercado por mais de trinta pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos, que, de seus celulares com câmeras digitais, sacavam fotos suas de todos os ângulos. A glória em vida, certamente, expresso no carinho a um personagem vivo de nossa história.
Ontem, Benedicto Monteiro deu adeus a esta vida. Ao meu queridíssimo amigo Ben e a suas irmãs Ana, Duty, Wanda e Alda, presto solidariedade neste momento. A dor é sempre tanta, mas a obra literária e política de Benedicto Monteiro superará a saudade.
Um comentário:
Péssima notícia que o blog transmite ao mundo.
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