Todos esses que aqui estão
Atravancando o meu caminho
Eles passarão
Eu, passarinho
Na inventividade e doçura do poeta, passarinho remete a algo bom. Todavia, na esteira da postagem "Ora vão tomar...", do nosso caro Oliver, ali embaixo, quero me referir a outra ave, que não me inspira nenhuma poesia.
Refiro-me a Jarbas Passarinho, acreano que adotou o Pará e fez carreira como militar e depois como político. Teve atuação importante em momentos tenebrosos da história deste país e, finda a ditadura, homem culto que é, dedicou-se a falar e a escrever sobre aqueles tempos, sempre querendo justificá-los. A começar, repudia o termo "ditadura". Para ele, jamais houve ditadura. Volta e meia, faz declarações públicas que me enchem de asco. Na mais recente, semana passada, verberou contra a possível punição de torturadores do passado (claro, também não houve tortura). E me saiu com esta: falou que o governo militar perdoou os criminosos da época (referindo-se à anistia), mas que esse perdão foi unilateral. Como declarado mais de uma vez, ele espera que a página infeliz de nossa história a que se referiu Chico Buarque na canção "Vai passar" seja simplesmente virada. Não é mais o caso de tocar nesses assuntos.
Fácil dizer isso se você não apanhou, levou choques elétricos, teve objetos enfiados em variados orífícios do corpo nem teve algum parente desaparecido ou assassinado. Para mim, um cinismo repugnante.
Jarbas Passarinho é uma espécie de ideólogo do regime militar pós-regime militar. Considero essa uma péssima biografia e uma desonrosa missão. Será que além do Oliver, provavelmente, terei alguma aceitação nesta opinião?
3 comentários:
Bom dia, caro Yúdice:
concordando plenamente com você, acrescento que é enganosa e cansativa essa imagem do coronel articulador do AI-5, ex-senador, ex-ministro e ex-várias-coisas, que, por ser reconhecido até entre adversários de não ser corrupto, posa como farol de milha do patriorismo, da ética, sempre a insistir em fazer crer que ele e seus pares faziam o melhor para o Brasil, sil, sil.
Tendo como música de fundo o tema "....eu, que nunca torturei, eu que nunca roubei.." seu bordão érmanente, seja qual for o assunto sobre o qual discorra, parece desconsiderar que ele e outros coonestaram a violência de estado e a corrupção institucional e..etc e tal.
Comparar, alegando direitos semelhantes ao "esquecimento", a violência em combate - como reação - dos guerrilheiros do Araguaia à violência dos que os combateram, ou achar que o coronel burocrata que fazia de conta que não sabia é caudatário do perdão terreno e divino, não condiz com o que eu enso.
Eles são criminosos de estado para sempre. E, se for possível, espero um dia que sejam julgados. Com amplo direito à defesa, a mesma que nagaram aos que trucidaram no campo e nas celas.
Bem, num post abaixo, depois de conversar com o Oliver, fui tomar meu Pondera. Não pelo Oliver, mas pelo assunto..rsrsrs...Agora, a vontade é tomar a caixa! Claro que não por sua causa!
Um grande abraço
Voto com o relator, caro Yúdice.
Abaixos todas as ditaduras!
Passadas, atuais e futuras.
Regionais e nacionais.
Deus nos livre dos coniventes e simpatizantes dos regimes de força
que insistem em se justificar. E passar por patriotas e bomzinhos.
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