segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Protestos de um homem comum

Como diria Caetano, "sou um homem comum; ninguém é comum, e eu sou ninguém". Por isso, me escapa a lógica de certas coisas, ainda que uma parte técnica da questão seja compreensível; mas as motivações é que são inalcançáveis e, pior, somente imagináveis. E a imaginação de um homem comum, meus amigos, voa longe...

Neste enredo cinematográfico - de uma obra de filme noir, daqueles de espionagem - da Operação Satiagraha (desculpe-me o Conselho Nacional de Justiça, mas não sou juiz, e por isso não estou proibido - ou "recomendado de me abster" - de utilizar os nomes sensacionais com que a Polícia Federal batiza suas ações), alguns pontos da história ainda não foram costurados. Por isso, escapam-me à compreensão. Só posso imaginá-los, insisto, e minha imaginação é terrível.

Assim é que Protógenes Queiroz, o delegado que encabeçou as investigações contra o banqueiro Daniel Dantas, será indiciado pela PF. Agiu fora dos limites da legalidade, dizem.

De Dantas, por sua vez, nunca mais se soube nada. Aliás, soube-se sim, de modo indireto: seu nome voltou à tona, semana passada, por causa da apreciação colegiada da medida liminar concedida pelo presidente do Supremo, Gilmar Mendes, em julho deste ano.

Volteios retóricos de componentes do STF conseguiram desdourar a Súmula 691, do próprio Supremo Tribunal. A competência da Suprema Corte, tão resguardada por seus membros - que se queixam do excesso absurdo de atribuições para um tribunal constitucional -, foi ampliada para atender a uma circunstância: resguardar Gilmar Mendes, o presidente, e quem mais estiver (se estiver) por trás disso.

Finalmente, a grande imprensa - ah, esta guardiã da moralidade, bastião último dos interesses do respeitável público - nada mais diz sobre Dantas. Já sobre Protógenes, De Sanctis e demais circunstantes...

Como homem comum, só me resta desejar algo, do fundo do coração: que o mercado, esta entidade invisível e poderosa, puna Dantas por seus crimes. E no bolso, que deve ser onde mais lhe dói.

Dantas, mano, tomara que a marola te pegue...

7 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Irretocável, Francisco.

Francisco Rocha Junior disse...

Obrigado, amigo. Abs.

Anônimo disse...

Francisco ,
Já comentei algo parecido , na nossa republica de bananas é assim : cai um avião , morre 190 pessoas e quem vai preso é o dono do puteiro que fica do lado do aeroporto , simples e justo assim.
Abraços
Tadeu

Francisco Rocha Junior disse...

Tens toda razão, Tadeu. Toda razão mesmo.
Abração.

Anônimo disse...

Bom dia, Francisco:

a leitura do seu post fez minha memória voltar a uma conversa com um amigo em São Paulo, dois ou três dias antes de voltar ao Pará.

Tentávamos compreender, meados de 1996, o processo estranho que identificávamos, onde parecia que a inversão das coisas começava a tomar jeito.

E o Armando, o amigo, do alto da sua experiência de militante, ex-preso político, disse: "O problema é que nós tínhamos um grande inimigo a combater e hoje estamos confusos porque estamos cercados por pequenos canalhas".

Não tão pequenos, é verdade, mas espalham-se por aí. E, às vezes, parecem fechar o cêrco sobre nós.

Abração.

Francisco Rocha Junior disse...

Bia, concordo com o Armando. Que tempos tristes, estes.
Abração.

Francisco Rocha Junior disse...

Complementando, Bia: mas ainda resistiremos a este cerco. Sempre.