Roda Viva e o caso Diamantino
Por Leandro Fortes
O filtro de perguntas montado pela direção do programa Roda Viva durante a entrevista do ministro Gilmar Mendes separou, entre aquelas enviadas por telespectadores, uma que, supostamente, se referia à reportagem "Nos rincões dos Mendes", publicada na edição número 522 de CartaCapital, de minha autoria.
Na época, estive em Diamantino (MT), terra de Gilmar Mendes, que há oito anos era dirigida pelo prefeito Chico Mendes, irmão do presidente do STF. A matéria resume a história de dominação coronelista da família Mendes no município, as muitas falcatruas protagonizadas pelo prefeito e a ampla atuação política de Gilmar Mendes em prol do clã do qual, ferozmente, faz parte.
A certa altura da reportagem, eu escrevi o seguinte: "O futuro prefeito, Erisval Capistrano, estranha que nenhum processo contra Chico Mendes tenha saído da estaca zero e atribui o fato à influência do presidente do STF".
Mais adiante: "Segundo Capistrano, foram impetradas, ao menos, 30 ações contra o irmão do ministro, mas quase nada consegue chegar às instâncias iniciais sem ser, irremediavelmente, arquivado". Pois bem, e qual foi a pergunta selecionada pelo Roda Viva? Algo assim: "O sr. tem alguma idéia do porquê das mais de 30 ações impetradas contra o seu irmão ao longo dos anos jamais terem chegado sequer à primeira instância?". Ora, eu jamais escrevi isso. Mas Gilmar Mendes aproveitou para relacionar a formulação equivocada (deliberada?) da pergunta para insinuar que ela estava sintonizada com o "nível" da revista (a Carta) que publicou a informação. E foi em frente.
Ninguém mais tocou no assunto. Nem nas demais denúncias levantadas pela revista sobre o escolinha de direito de Mendes em Brasília, montada a preço de banana e com contratos sem licitação. Nem das relações de Mendes com o coronel Sérgio Cirillo, ligado a Hugo Chicaroni, condenado por subornar um delegado federal em nome de Daniel Dantas. É a falta que faz uma bancada bem informada de jornalistas de verdade, dispostos a fazer jornalismo de verdade. Não fosse a atuação de Eliane Cantanhêde, aquilo teria sido o funeral simbólico do programa.
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