quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O poeta e a vida real

Dediquei dois posts a Max Martins, aqui no Flanar. Mais que na morte, creio nas flores em vida, como disseram Nélson Cavaquinho e Guilherme de Brito, no memorável samba da dupla. Assim, pretendi homenagear nosso poeta quando ainda estava entre nós.

Mais que homenagens, porém, poetas, como qualquer um, merecem vida digna. É triste ver que na vida real, os grandes intelectuais da terra são muitas vezes levados, ao fim de sua jornada, a ter uma vida incompatível com sua grandiosidade. Lembro-me de uma reportagem feita por O Liberal, alguns anos atrás, mostrando a situação financeira pouco confortável de Max Martins, em seus oitenta anos. Alguém de tanta importância para nossa cultura morando mal, alimentando-se mal, não tendo o tratamento médico de que necessitava.

É esse o apelo que quero fazer, tomando como mote Max Martins: que nossos grandes nomes - os grandes de verdade - tenham vida digna; que lhes seja dada a oportunidade, o tempo e as condições de construírem e legarem grandes obras, sobretudo (ou pelo menos) no outono de suas vidas.

6 comentários:

Itajaí disse...

Infelizmente, Francisco, esta é a realidade. Apesar de vivermos em um país onde o custo dos livros é caríssimo, a maioria de nossos escritores e escritoras vivem modestamente e assim enfrentam as agruras da velhice. E entre os paraenses não faltam exemplos, além do poeta Max Martins.
Então esta é a realidade: escritores abonados como Jorge Amado e Paulo Coelho não preenchem os cinco dedos da mão.

Scylla Lage Neto disse...

Francisco, a verdade é que neste país, no outono de nossas vidas perdemos, junto com as "folhas" a saúde e a dignidade, num sentido amplo.
Infelizmente.
Abs.

Val-André Mutran  disse...

Maravilhoso post de um humanista sensível.
Parabéns Francisco.

Yúdice Andrade disse...

Vale lembrar, Francisco, que mesmo o abonado Jorge Amado tem seu patrimônio cultural ameaçado pelo desinteresse do poder público e pela alegada incapacidade financeira da família para cuidar de tudo com os próprios recursos. O acervo quase foi vendido para uma universidade americana. Ou seja, pode ser célebre como for, uma vez morto, volta a imperar o pouco caso brasileiro em relação à cultura.
Não sei como poderíamos garantir dignidade aos nossos grandes artistas. Penso que uma pensãozinha paga pelo Estado tem mais cara de esmola do que de outra coisa. Digo isso pensando na situação de penúria do Verequete, para citar apenas um exemplo mais conhecido.
Não pretendo, contudo, jogar pedras nos governos. Penso que a culpa disso é mesmo do povo (sem excluir a culpa dos governos, que não promovem a cultura). Mas basta que comparemos com os Estados Unidos, que nem são um exemplo de sofisticação intelectual. Eles, contudo, adoram as artes em geral. Por isso, lá, um músico, um escritor, um dançarino pode se tornar rico e famoso, ter uma vida gloriosa e ser querido após sua morte, deixando um legado perpétuo. Porque as pessoas comuns reconhecem o valor do que ele produziu.
A que distância os brasileiros estamos disso?

Anônimo disse...

Nos EUA, as redes de televisão podem gerar apenas 20 a 30% de material próprio. Assim, quem se forma em jornalismo, ou é ator, técnico, qualquer coisa, também pode fazer seus trabalhos e vendê-los às redes. Aqui no Brasil, o azar da Natal Silva foi nascer em Belém. Qual o direito que Fernanda Montenegro, com todo o respeito, tem que a nossa Natal, com todo o respeito, não tem? A televisão... gerando peças, filmes, fama, tudo. É difícil produzir Cultura no Brasil? Imaginem no Pará!

Francisco Rocha Junior disse...

Itajaí e Scylla, é esta mesmo nossa realidade, nua e crua. Vide o caso de Max Martins.

Obrigado pelas gentis palavras, Val. Abraço pra ti.

Yúdice, meu apelo foi um pouco sem destinação, sem alvo claro. Porém, tenho comigo uma ligeira impressão de que a responsabilidade por este estado de coisas realmente decorre da ausência de política cultural séria e consistente do Estado, em todos os níveis - Município, Estado propriamente dito e União. Afinal, se cultura é hoje, na pós-modernidade, mercadoria, não será por isso que ela deverá ser de baixo nível. O que é preciso é fazer a sociedade conviver, entender e consequentemente consumir a produção cultural mais sofisticada, exatamente como acontece nos EUA, que tu bem citaste. É esta a distância que nos separa dos países de primeiro mundo.

Edyr, tu apresentaste uma questão importantíssima para o debate: a da gestão do direito autoral. Excelente contribuição. Vou tentar debulhar o tema, com as sérias dificuldades que o tema se me impõe - não sou especialista, mas um mero curioso do assunto - e produzir um post específico. Abração.